quinta-feira, 28 de abril de 2016

O TEMPLO DO TEMPO

O Templo no Tempo
CLARICE DE OLIVEIRA
Os Templos impressionam, porque eles são o "antro" dos pedidos, dos desejos, dos resgates, das perdas...
Tudo isso, desejo, resgate, perda, conquistamos e perdemos, às vezes, até em um só dia... O Templo, existe para isso.
Entramos no Templo, falamos com o Templo, Ele, o Templo, ouve... vai responder através da vida, do viver.
Quando do mundo partimos, as emoções, os dramas, as alegrias, são revolvidos num mar levado pelos ventos das Estações Climaticas que despencam das montanhas de nossa Alma, varrem as planicies de nossas conformações, e chegam humildes e amigos aos nossos pés... prometendo esperanças das quais duvidamos sempre.
Enquanto isso, o Templo está fechado para a Noite que não o atormenta, porque não lhe leva nenhum desesperado ou apenas, um que desejava um pouco de paz na sua permanente Sombra de Solidão de antro de Templo.
Te construiram, te elaboraram, e te fizeram para muitos e muitos anos...E os que te frequentaram, morreram, renasceram e até talvez, penetraram em ti, sentindo uma nostalgica lembrança de que algum dia, em ti deixaram parte de sua alma, em lagrimas,
em queixas ou regozijo... sem sentirem que você, Templo, apesar de desgastado, está eterno como os que te frequentavam... porque o teu antro permanecerá como Destino no
Mundo dos Sentimentos.

quarta-feira, 27 de abril de 2016

A floresta insondável

A floresta insondável













A floresta insondável

NEUZA MACHADO




É a Cidade/Floresta insondável, no sentido abrangente, a verdadeira “habitação onírica” do segundo narrador, “a casa de intimidade absoluta, a casa onde [ele] adquiriu o sentido da intimidade”. Por isto, todos os personagens do lugar têm algo a narrar: a bibliotecária Estela de Sousa, a manicure Sabá Vintém (representante de todas as manicures do mundo, aquelas que sabiamente sabem conviver com suas poderosas e luxuosas clientes), o homossexual Fernandinho de Bará (o conhecedor dos pecadilhos sexuais dos “burgueses cheios de culpa que [o] freqüentaram”[l]), e Benito Botelho, “o maior intelectual de Manaus”, o filho da cozinheira Isaura, aquele que, algures, estará, à moda de detetive de novela policial, às voltas com o sumiço de Zequinha Bataillon -, ansioso por descobrir o mistério de seu desaparecimento. Todavia, se houve cooperadores importantes para o desenvolvimento criativo do relato ficcional, certamente, nesta terceira parte do romance, a colaboração da manicure negra Sebastiana Vintém propaga-se como uma das mais relevantes.


Os segredos foram revelados ao segundo narrador, com certeza, por intermédio da poderosa Sabá Vintém, “o porta-voz municipal”. No entanto, em todas as Urbes do Orbe, há muitos influentes porta-vozes municipais. Quem seria então a poderosa Sebastiana Vintém, esta passageira habitante da casa onírica do narrador da pós-modernidade? Generalizando, não seria ela o somatório de todas as mexeriqueiras de qualquer parte do mundo dito social (portanto, uma personagem universal)? Por qualquer motivo, só do conhecimento de quem narra, a manicure tem a sua importância no desenrolar narrativo, pois, além de demonstrar, por contraste, a elevada posição social de D. Mariazinha, a sua presença ficcional permitiu a exteriorização de dois essenciais ambientes da “casa imaginária”: o interior (a principal casa do pretérito) e o exterior (a cidade de Manaus).
O fogo da labareda da serpente
Sobre O AMANTE DAS AMAZONAS, de Rogel Samuel

quinta-feira, 21 de abril de 2016

ANIVERSÁRIO DE SHAKESPEARE (?)



From fairest creatures we desire increase, 
That thereby beauty’s rose might never die, 
But as the riper should by time decease, 
His tender heir might bear his memory: 
But thou, contracted to thine own bright eyes, 
Feed’st thy light’s flame with self-substantial fuel, 
Making a famine where abundance lies, 
Thyself thy foe, to thy sweet self too cruel 
Thou that art now the world’s fresh ornament 
And only herald to the gaudy spring, 
Within thine own bud buriest thy content 
And, tender churl, mak’st waste in niggarding.
Pity the world, or else this glutton be, 
To eat the world’s due, by the grave and thee.
                        Willian Shakespeare



Daquelas belas criaturas retorno ansiamos, 
A que suas belezas nunca morram 
E quando cair do tempo o Outono 
Guardemos sua herança na memória. 
E Tu, que só teus belos olhos amas, 
Te alimentas apenas de tua própria chama 
E produzes fome onde abundância existe 
Por que  teu suave ser é  tão adverso?

Pois és do mundo agora o ornamento 
És o único cantor da primavera 
E recusas em ti o teu contentamento

Egoísta da natureza que há contigo 
Do mundo não tens piedade, nem lamentas 
Se colher no chão do túmulo o que te foi servido

                    Trad. livre de Rogel Samuel 




terça-feira, 19 de abril de 2016

segunda-feira, 18 de abril de 2016

O FUTURO


Milhões de crianças chorando
na noite esférica.
Por que choram?
Não são
elas que choram.

É o futuro.


CASSIANO RICARDO

domingo, 17 de abril de 2016

MORRE ROGÉRIO DUARTE

MORRE ROGÉRIO DUARTE

Eu escrevi no "Flor do mal" sobre budismo.


Sobrinho do sociólogo Anísio Teixeira, foi um intelectual multimédia baiano. Rogério Duarte é artista gráfico, músico, compositor, poeta, tradutor e professor. Nos anos 60 mudou-se para o Rio de Janeiro, para estudar arte industrial com o alemão Max Bense, um dos mestres da semiótica e da poesia concreta, o que influenciaria seu trabalho no futuro.[1] No Rio trabalhou como diretor de arte da UNE e da Editora Vozes. Foi o autor de vários cartazes para filmes de seu amigo Glauber Rocha, como Deus e o diabo na terra do sol (símbolo do cinema nacional, o cartaz se transformou em referência e é apontado como o despertar da pós-modernidade no Brasil)[1] e A idade da terra. Também criou, para este último, a trilha sonora. Entre os vários artistas com os quais colaborou, contam-se Gilberto Gil, Caetano Veloso, João Gilberto, Jorge Ben e Gal Costa.

Considerado um dos mentores intelectuais do movimento tropicalista, Rogério foi também um dos primeiros a ser preso e a denunciar publicamente a tortura no regime militar. Preso juntamente com seu irmão Ronaldo Duarte, o caso mobilizou artistas e mereceu ampla divulgação no jornal carioca Correio da Manhã, que publicou uma carta coletiva pedindo a libertação dos "Irmãos Duarte".

Com o endurecimento da ditadura e a promulgação do AI-5, Rogério foi para a clandestinidade e iniciou a sua fase "transcendental" que o levou a estudar o sânscrito e iniciar a tradução do Bhagavad Gita, lançado por ele anos mais tarde, acompanhado de um CD com a participação de vários artistas, com o título de Canção do Divino Mestre. Também é de sua autoria o livro Tropicaos onde, entre outras coisas, fala da prisão, tortura e de sua versão sobre o movimento tropicalista.

Morreu em 14 de abril de 2016, aos 77 anos, no Hospital Santa Lúcia, em Brasília.[2] Ele estava internado há dois meses e lutava contra um câncer ósseo e câncer no fígado.




terça-feira, 12 de abril de 2016

O AMANTE DAS AMAZONAS

Minha mãe morreu 2 anos depois que parti. Ela me desprezava, sei que me odiava, sei que me amaldiçoou na hora da morte); e nossa irmã, bela, cativa, caçula, abandonada pelo marido para fazer a vida na Vila de Santa Rita com os tropeiros da região, ganhando assim o de si para escapar da fome do mundo enquanto o sertão descascava de árido: sim, a nossa família toda, fodida e quebrada, assim que depois vi, me deixava sozinho, comigo, no horror de Deus.

POIS não disseram palavra. Se recolheram em si, e eu ainda durante muito tempo sentado no escuro, escorrendo chuva na mala de amarrado, chorando no abandono e solidão. E eu quis voltar, e não estar ali. E eu não quis ter vindo. Mas não tinha o caminho de volta. E nunca mais voltei.

E, lentamente, a partir do seguinte, comecei a fazer aquelas coisas próprias, como cozinhar e limpar o tapiri, pescar e catar frutas para que não se passasse fome. E como eu devia logo ao patrão que nem conhecia, tive de começar a correr, prisioneiro das colocações, e a seguir estrada com tigelinha de flandres, a fazer trabalho de defumação com o ouricuri, cavacos de maçaranduba e acabu, a criar minhas próprias pélas. O leite se tomava negro, ao meu contato. A agricultura não casa com a seringa? Produz o que consome? E não falavam comigo, e não me ensinavam, como que me ignoravam, não se falavam entre si, os dois. Tinham virado bichos, e não creio soubessem falar. Chegavam de noite, macacos moídos, mudos e sujos, comiam e dormiam fedendo. E de madrugada de novo para a estrada, movidos por um interno aparelho de corda, mecânicos, outra vez, eu não sabia para onde, eu não sabia para quê.

Mas aprendi a ferir a árvore, a defumar o látex, a empilhar as pélas de borracha, a ouvir aquele permanente ruído de gorgulho oleoso do acotovelamento das águas escuras do Igarapé do Inferno (que até hoje ouço e sei que irei ouvi-lo neste fim de rumo na hora de minha morte).

TEATRO AMAZONAS À VENDA AQUI