sexta-feira, 28 de novembro de 2014

NEUZA MACHADO: O FOGO DA LABAREDA DA SERPENTE

NEUZA MACHADO: O FOGO DA LABAREDA DA SERPENTE
 
SOBRE O AMANTE DAS AMAZONAS DE ROGEL SAMUEL
 
Contudo, são os mítico-ficcionais Numas que estão aqui, nas páginas deste meu artigo teórico-interpretativo, como assunto de comentários reflexivos. E se, como diz o narrador-personagem, o Ribamar de Sousa, “a vida é um caminho que de repente se bifurca”, observo a seguir outras informações estimáveis.
“Nessa matéria nada é absoluto” (ou seja, pela via do dicionário português-brasileiro, “não tem limites”, “não sofre restrição de espécie alguma”, “não enuncia um sentido completo”, “não é narrativa autoritária”, “não é um narrar despótico, imperioso, soberano, incondicional, incontestável”, qualquer que seja a definição do termo “absoluto”), diz o narrador, reafirmando, por via ficcional, o que, reflexiva e teoricamente, procuro assegurar, pela diretriz do conhecimento fenomenológico, como narrativa pós-moderna/pós-modernista de Segunda Geração. “Nada é absoluto”, porque, para criar um texto narrativo, diferenciado das narrativas exemplares, lineares e absolutas, e para interagir com o arcabouço mítico-indígena da realidade sócio-mítica amazonense (que diligencia elevar a figura do índio de sexo masculino, forte, destemido, possuidor de “grosso falo” como símbolo de “dinâmica sexualidade”), o escritor, de origem manauara, obrigou-se criativamente e ficcionalmente a recuperar os traços do conhecimento coletivo e abrangente (formal e impositivo) de seu (do autor) anterior meio social citadino, por questões substanciais ainda relacionados com a história primitiva do homem brasileiro civilizado.

quarta-feira, 26 de novembro de 2014

NEUZA MACHADO: O FOGO DA LABAREDA DA SERPENTE


NEUZA MACHADO: O FOGO DA LABAREDA DA SERPENTE

SOBRE O AMANTE DAS AMAZONAS DE ROGEL SAMUEL

Entretanto, de acordo com esta narrativa histórico-mítico-ficcional, especialmente, os Numas “não ficavam visíveis, às claras”. Seriam eles os míticos Numes de passados relatos simbólicos, aquelas aéreas divindades mitológicas que se elevavam no ar por meio de influição divinizadora? Seriam eles os antigos gênios alados, só perceptíveis por meio de espiritualíssima intuição? Ou foram germinados e multiplicados, simbolicamente e criativamente, a partir da deusa suméria Inanna, protetora da guerra e do prazer sexual, associada ao vento, enquanto divindade mítica? Se por vezes penso nas genealogias dos diversos arcabouços míticos-religiosos da humanidade, percebo sempre uma espécie de confluência aproximando os relatos.
“Não ficavam visíveis”: repenso a informação reflexivamente, porque esta fase do romance se desenvolverá por intermédio do patrocínio de reminiscências caprichosas do imaginário mítico-familiar, todas interligadas aos diversos narrares tradicionais da realidade mítico-indígena-e-social brasileira. Tais narrativas, indiscutivelmente poderosas, heroicamente/simbolicamente personificadas por criaturas aladas extraordinárias, foram, são e sempre serão representativas das potências da natureza e das incríveis incomuns qualidades do ser humano. Em outras palavras, os Numas ascendem, ficcionalmente e miticamente, por intermédio do poderoso tronco familiar, primitivo e ímpar, do índio amazonense, oriundo das altas e inóspitas regiões andinas. O mencionado tronco, certamente, no meio dos infindáveis inter-relacionamentos sócio-culturais, foi realçado como fundamento sanguíneo intercambiável, digno de ser aceito como altamente proveitoso no âmbito da real miscigenação da sociedade manauara e brasileira, altiva e historicamente preconceituosa, uma vez que o glorioso mito do ativo exercício do poder estará sempre e indissoluvelmente interligado às grandes alturas, pouco hospitaleiras.


segunda-feira, 24 de novembro de 2014

OMANIXI


 
POR NEUZA MACHADO
 
O Manixi da narrativa rogeliana poderá ser visto pelo mesmo prisma que revelou aos leitores universais o Sertão ficcional de Guimarães Rosa. Assim como o Sertão roseano, oriundo do sertão de Minas Gerais, que “está em todo lugar”, como diz Riobaldo (o personagem-narrador de Guimarães Rosa), do mesmo modo percebo o Manixi ficcional rogeliano. Assim como o Sertão de Guimarães Rosa foi visto, por mim, em meu livro, Do Pensamento Contínuo à Transcendência Vital (do cogito(1) ao cogito(3)), como um reflexo da casa primordial, repensada a partir da ciência filosófica de Gaston Bachelard, da mesma forma o espaço ficcional do Manixi será aqui interpretado. A narrativa revelou-me, e revelará aos futuros leitores rogelianos, as íntimas lembranças (memória) e recordações (matéria poética) do narrador amazonense, sobre a sua “casa primordial” inesquecível. Os sentidos vitais (auditivos, visuais, nasais, táticos, gustativos), provindos da infância e adolescência, vividos ali, permaneceram/permanecem intensos e persistentes em suas lembranças poetizadas, mesmo que ele esteja hoje distanciado geograficamente de seu lugar de nascimento, e são percebidos liricamente (matéria lírica interferindo no relato ficcional) ao longo da narrativa. Quem se lembra (recorda ficcionalmente) do Igarapé do Inferno (por que “do Inferno”?) e de toda aquela paisagem dantesca é o segundo narrador, originário do entrópico século XX. O personagem-narrador Ribamar de Sousa apenas se coloca como o porta-voz de suas reminiscências (ou o duplo, ou a máscara ficcional do criador singular atavicamente preso às lembranças e recordações do passado, fossem boas ou más).
 “Pois nós retornávamos em busca daquele passado interdito, pois nós chegávamos no fim daquela era, quando o Palácio transparecia com deslumbramento nos seus múltiplos reflexos das quinquilharias de cristal, janelas e bandeiras das portas transformadas em lúcidas placas de ouro reluzente e vívido e muito louco”, afirma(m) o(s) narrador(es) (s). O primeiro narrador, Ribamar de Sousa (reduplicado por uma pluralização pessoal) chega ao Palácio Manixi quando este já começava a apresentar-se em seu processo de decadência. Para revelá-lo reflexivamente aos leitores atuais e do futuro, buscarei reforço analítico-interpretativo na Poética da Casa de Gaston Bachelard e em outras interferências filosóficas (citações), valiosas, retiradas dos diversos livros de sua fase noturna. O Palácio, a Floresta, a Cidade, todos os planos desta obra diferenciada se distinguem a partir de um único princípio, ou seja, refletem a “casa inesquecível” de que nos fala Bachelard, com seus recantos secretos aninhados no mais profundo dos pensamentos. Por isto, o “Igarapé do Inferno” (por que Igarapé do Inferno?) se revela a sinalizar íntimas lembranças infernais, lembranças que obrigam o primeiro narrador a revelá-las. Quem está buscando o “passado interdito” é o segundo narrador, porque foi ele, enquanto singularidade ativa de seu núcleo social primitivo, que chegou ali, pelo nascimento, já no final de uma era de glórias capitalistas, já no início da decadência do esplendor da borracha.
O Palácio Manixi como reflexo das ruínas da casa natal. O Palácio como reverberação das perdas existenciais de um narrador invulgar que poderia ter nascido, crescido e permanecido na opulência, por ser herdeiro de nomes notáveis (perdidos, por interferência de durações mal administradas), mas que se viu na contingência de sair pelo mundo (assim como o Ribamar de sua história), “a criar [suas] próprias pélas” . O segundo narrador, certamente oriundo de famílias destacadas daquele passado de glórias, poderia ter sido, naquelas paragens de nascimento, um Zequinha Bataillon bem edificado. A crise da borracha decidiu o contrário. Seu parente Maurice Samuel (citação do romance), rico judeu-francês, figura de destaque na cidade do princípio do século XX, perdeu toda a sua fortuna, quando da recessão econômica da borracha, ficando na bancarrota. Foi, talvez, a partir da imagem de Maurice (possivelmente e sintagmaticamente, sempre destacada com reverência e respeito), metaforicamente assimilada (somatório) às antigas figuras dos chefes políticos manauaras, que houve surgir representações/recriação do poderoso Pierre Bataillon.
Recuperando as informações bachelardianas, contidas no capítulo “A dialética do energismo imaginário” , do livro A Terra e os Devaneios da Vontade, e se as comparo com as informações contidas no texto ficcional rogeliano, a delineação de grande efeito, poderosa, do personagem Pierre Bataillon, se tornará mais transparente.
Bachelard diz: “A vontade de poder inspirada pela dominação social não é nosso problema”, quer dizer, não é problema do filósofo (não é problema dele, do Gaston Bachelard). E continua: “Quem quiser estudar a vontade de poder é fatalmente obrigado a examinar primeiro os signos da majestade”, e isto é um problema do ficcionista-criador, e neste caso específico, do ficcionista manauara. Quem terá de se deixar seduzir momentaneamente pelo instante metafísico pós-moderno/pós-modernista de Segunda Geração, pelo “hipnotismo das aparências”, dos simulacros cotidianos que imperam em seu momento histórico, e quem terá de se embaraçar nos “ouropéis da majestade” de um personagem ímpar, poderoso, é o “demiurgo do vulcanismo”, conectado indissoluvelmente e indistintamente ao “demiurgo do netunismo” ─ o demiurgo da terra flamejante acoplado ao demiurgo da terra molhada ─ [oferecendo] “seus excessos contrários à imaginação que trabalha o duro e àquela que trabalha o mole”. “A vontade de trabalho não pode ser delegada, não pode usufruir o trabalho dos outros”, explica Bachelard. Então, a “vontade de trabalho” ficcional do narrador pós-moderno, extremamente diferenciada, ao revelar a grandeza e declínio da Era da Borracha, no Amazonas, não poderá ser avaliada como subproduto de suas inúmeras leituras (históricas ou não) sobre o assunto. Sua “vontade de trabalho”, ao intuir a sua ficção singular, ultrapassou os limites do explicitamente oferecido. Sua “vontade de trabalho” criou “as imagens de suas forças” narrativas, forças que o animaram “por meio das imagens materiais”, ficcionistas, de um Manixi esplendoroso e de um Pierre Bataillon repleto de um supremo poder (o poder capitalista selvagem que grassou no Amazonas, a partir do século XIX até meados do século passado ─ século XX ─, e que se enfraqueceu, posteriormente, retirando do lugar o esplendor de outrora).

sexta-feira, 21 de novembro de 2014

MEDITAÇÃO NO PARQUE

MEDITAÇÃO NO PARQUE
 

Rogel Samuel

 
            Meditação no parque. Vento frio, apesar do verão. Frio, em Poços de Caldas. Reflexão no Parque. O ano de 2003. Passou. A criança passa, passa por mim, na pequena bicicleta. Olha para mim. Sorri. Nenhum plano, para o futuro. O futuro, esse não existe. Possivelmente não, nada será igual ao que planejamos. 2003 sim, foi muito bom. Mesmo. Passou, mas valeu. Se tive lá o meu cálice de lágrimas, também sorvi, e com avidez, a minha taça de prazeres e realizações. De um certo ponto de vista, esse foi um dos melhores tempos de toda a minha vida.  Não, não se deve pensar em melhorar o que é, o que está, e está bem em sua própria natureza de ser. A vida, esta coisa se oferece, como ampla paisagem, - nós tomamos o rumo. A vida é restauração, é tempo, tempo que se esgota, que se encurta, momento a momento, cada vez menor. Menos tempo, menos vida, a cada respiração mais próximos do fim, a temporalidade se põe no horizonte, como o sol, ainda muito brilhante, mas cadente. Que fizemos nós, do tempo que dispomos? Dizia o mestre Suzuky: «O Zen ordena que neguemos tudo o que se atravesse em nosso caminho, e mesmo essa tentativa de negar deve ser negada». Toda experiência de vida é única, se recusa a ser explicada. A vida, - um presente que recebemos devido à nossa coragem, ao nosso amor, ao nosso interesse pelas outras pessoas. Que fizemos nós, em 2003, na vida? Da vida? A que tipo de vida nós nos propusemos? Somo todos esquecidos,  vivemos sonâmbulos ou irrequietos. Nós nos esquecemos dela, da vida, seja o que for, do viver com amplidão de sentido. Nos esquecemos. Em 2003 escrevi essas crônicas. Com regularidade. Tive quem mas lessem. Tive alguns bons leitores. De qualidade. Veja você. Há uns poemas de Saichi, o carpinteiro poeta, que dizem:
 
                                    Onde estas tu, Saichi? No céu?
                                   Aqui é o céu.
 
                                   Esse eu, com um olho dado por ti,
                                   O olho que te vê.
 
                                  
            Soam agradavelmente aos ouvidos os ruídos do parque. Algumas vozes. Longínquas. Gritinhos estrídulos, crianças, pássaros. As velhas andam, vagarosas. Pesadas de passado. Se se libertassem do passado, dançariam, livres, leves, soltas no ar como nuvens. Como pássaros. O passado tem seu peso morto, acumulado, lastro do navio casco cheio de lodo ferro. Entre as flores passam jovens namorados, ainda jovens, ainda puros. Ele acreditam no amor, acreditam na vida. Seus corpos belos frescos, eles irradiam felicidade. Rosas. Eu hoje acredito no amor. Acredito na vida. As rosas abertas ao verão, às chuvas de verão. Sinto-me irmão daquelas velhas, confuso, lúcido, como os namorados, as crianças. Escreveu Fernando Pessoa (ou melhor Ricardo Reis, seu outro):
 
                                   Prazer, Mas devagar,
Lídia, que a sorte àqueles não é grata
Que lhe das mãos arrancam.
Furtivos retiremos do horto mundo
Os depredandos pomos.
Não despertemos, onde dorme, a Erínis
Que cada gozo trava.
Como um regato, mudos passageiros,
Gozemos escondidos.
A sorte inveja, Lídia. Emudeçamos. 
 
Sim, Pessoa, ou Ricardo Reis, tão sábio. As Erínias eram as Fúrias, seres terríveis que representavam o restabelecimento da Ordem, destruída por um crime. Eram vinganças vivas, e viviam no Erebo. Seres anteriores ao próprio Zeus. Geralmente havia três deusas, três Fúrias, tinham víboras em lugar de cabelos, cara de cão, corpo de vampiro, os olhos sanguíneos. «Erinis» significa «odiosa». O chamá-las de «Fúrias», como os Romanos, significava que eram «a loucura da vingança». Pessoa considera o prazer como um «crime», ou melhor, ele criminaliza o prazer do amor, o resvala na sua sexualidade. «Não despertemos, onde dorme, a Erínis / Que cada gozo trava»,
significa «gozemos escondidos». Como um regato entre árvores, como passageiros mudos, como adolescentes em «pecado», gozemos no escondido, no escuro, ou nas sombras do parque desta meditação do parque, com o cuidado e o medo do despertar policial das Erinis.
 

segunda-feira, 17 de novembro de 2014

Editora Entretextos na Fliporto 2014

Editora Entretextos na Fliporto 2014 Editora Entretextos na Fliporto 2014 As edições realizadas pelo Portal Entretextos,  que é formalmente editora desde 2013, marcaram  presença na Fliporto 2014. A editora trouxe para a feira três de suas publicações. Ares e Lares de Amores Tantos, de Dílson Lages Monteiro, lançado oficialmente na Feira do Livro de Pernambuco, e os livros Modernas Teorias Literárias - Breve Introdução (coautoria com Nova Alainça), do crítico literário, romancista e professor Rogel Samuel,  e Memorial do Ouro, de Gilberto de Abreu Sodré Carvalho. 
O ensaio de Rogel, ideal para adoção em faculdades de letras, esgotou-se já no segundo dia do evento. Para o diretor de Entretextos, o professor, editor e escritor Dílson Lages, a Editora pretende resgatar autores piauienses de domínio público, com obras de notável valor literário, mas  injustiçados pelo sistema literário. Além de textos nessa linha, Entretextos edita também ensaios acadêmicos consagrados ou que possam contribuir  a fim de lançar novas luzes sobre a literatura. 

domingo, 16 de novembro de 2014

LER OU ESCREVER


LER OU ESCREVER

Rogel Samuel

Há escritores que leram muito. Guimarães Rosa, por exemplo. Há outros que pouco leram, com Barthes. Este, disse uma biógrafa, leu pouco, pois escreveu sobre tudo o que leu. Rosa era um erudito, dominava vários idiomas. Como Borges. Há quem passe horas lendo. Como Foucault. De quem se disse que era o primeiro que chegava e o último que saía da Biblioteca Nacional. E tinha memória fotográfica. Ele certa vez ouviu uma conferência de Ricoeur às gargalhadas. Estava no fundo da sala, com seus admiradores. Debochava, irônico (era terrível). No outro dia, mostrou que tinha gravado na memória tudo o que foi dito e sobre isto deu uma aula, desmontando, ponto por ponto, o assunto. Ele era assim, segundo seu biógrafo. Péssimo caráter. Detestado por todos (no meio acadêmico todos se detestam entre si). Mas “era o homem mais inteligente que já apareceu”, disse um crítico. Estava à esquerda da esquerda. Portanto há quem leia muito e quem leia pouco, mas bem. Uma hora por dia. Como o sábio erudito Gaston Paris, que era enciclopédia viva. Quando perguntaram qual o segredo de sua imensa cultura, ele respondeu: “Leio uma hora por dia”. Há, por fim, escritores que leram muito e escreveram pouco. E outros, ao contrário, que preferiam escrever a ler.
Há uma fórmula americana de como ler, que diz: “SurveyQ3r”. A primeira leitura é “survey”, de pesquisa, uma olhadela geral rápida. Folhear o livro. O “Q” é de “question”, dúvidas, derivadas dessa pesquisa rápida. Aí vem 3 “r”. O primeiro é de ler (read), o segundo é de reler, o terceiro de resumir. Mas cada um tem seu jeito.

Modernas Teorias Literárias na FLIPORTO

Amigo Rogel, boa notícia. Ontem fui ao estande da Carpe Diem e seus livros tinham vendidos todos. Carpe Diem Editora vendeu seu livro na Fliporto deste ano. Fiquei muito feliz. Na segunda, tenho conversa pra viabilizar a distribuição dele pela Cultura. Espero que tudo dê certo. Estou feliz com a boa acolhida de Modernas Teorias Literárias.
Dilson Lages lança na Fliporto 2014
Dilson Lages lança na Fliporto 2014
A Feira Internacional do Livro de Pernambuco, que completa cinco anos de realização ao lado da Festa Literária Internacional de Pernambuco (Fliporto), começa nesta quinta-feira, 13/11, indo até o domingo, 16/11, no Parque do Carmo, em Olinda. O evento contará com mais de 100 lançamentos de títulos inéditos e sessões de autógrafos com autores novos e nomes já consagrados no mercado literário. A expectativa, segundo a organização, é receber nos quatro dias de eventos mais de 100 mil pessoas.
 
“Temos mais de 100 editoras distribuídas em 70 estandes no ambiente da Feira. Com a venda de títulos de todos os gostos, dos clássicos aos mais contemporâneos e com preços a partir de R$ 2,00”, disse Alventino Lima, presidente da Associação do Nordeste das Distribuidoras e Editoras de Livros (Andelivros) e coordenador da Feira. Segundo ele, o evento está três vezes maior que a última edição e a entrada franca permite que todos os públicos sejam atingidos.
 
O homenageado deste ano é Raimundo Carrero, autor pernambucano que, curiosamente, foi vendedor de livros para Alventino Lima. “Conheço Carrero de longa data. Nos anos 60 ele foi vendedor de livros para mim e, hoje, tenho a enorme honra de vender os livros dele”, conta Lima. Durante o evento, Carrero irá autografar duas obras, A História de Bernarda Soledade – A Tigre do Sertão, que agora ganha versão francófona lançada em francês, e O romance do bordado e da pantera, inédito. A Feira abre todos os dias a partir das 10h e encerra as atividades às 22h, as sessões de autógrafo ocorrerão dentro dessa grade de horário, preferencialmente no período vespertino e noturno.
 
SESSÕES
 
Na programação do evento serão realizadas sessões de autógrafo e bate-papo com autores. Entre os confirmados estão: Chico Ferreira, autor de Chico, um baú cheio de causos; Selma Vasconcelos, com No curso da história: crônicas; Otelo Schambach, com Conversando com o Pediatra; e Paulo Markun, com Brado Retumbante – A Luta pela Democracia.
 
Já entre os que lançam inéditos: Rosenita Ribeiro de Souza, com Natureza Viva; Rose Oliveira, com Transparentes como eu; Dilson Lages Monteiro, com Ares e lares de amores tantos; Juliana Spinella, com Dores e Delícias – Do blog ao livro; e Raimundo Carrero com o lançamento da edição francesa de Bernarda Soledade, tigress du sertao.
 
Foto: Beto Figueirôa
 
V Feira Internacional do Livro de Pernambuco
 


sábado, 15 de novembro de 2014

O ROMANCEIRO

O ROMANCEIRO
Rogel Samuel
No início do "Romanceiro da Inconfidência", há uns versos que dizem:
"Não posso mover meus passos / por esse atroz labirinto". Cecília parece perdida no passado daquela história. "- pois sinto bater os sinos / percebo o roçar das rezas, / vejo o arrepio da morte, / à voz da condenação". Esses versos sempre me impressionaram, sempre me lembraram Minas, São João del Rey, Ouro Preto. Em Ouro Preto há uma estátua que simboliza a Justiça, a Culpa, o Medo, o Terror. É um ser assexuado, que segura uma espada apontada para fora, para o espectador, para mim. Uma espada pontiaguda, aguda e fina. Os lábios estão sorrindo, como deve sorrir a Morte, a Tortura, a Dor. Remete a um outro poema do "Cancioneiro": - o cenário: "Eis a estrada, eis a ponte, eis a montanha / sobre a qual se recorda a igreja branca. // Eis o cavalo pela verde encosta. / Eis a soleira, o pátio, e a mesma porta. // E a direção do olhar". Não sei por que sempre associei este olhar com a ponta daquela espada. A estátua está sentada e aponta da espada para frente. É uma alegoria do poder, e fica no alto da casa onde o Poder se exercia, talvez "A Casa do Contos". Não. Não me sinto bem, em Ouro Preto. Assim como São João Del Rey me parece uma cidade em luto. "Correm avisos nos ares, / Há mistério em cada encontro". Tudo se mistura com cartas, amores, traições. Símbolos. "O país da Arcádia / jaz dentro de um leque". O sorriso da maldade à "cálida luz de trêmulos pavios". Ninguém conseguiu a metáfora do passado, como este poema. "Assim viveram", diz ele, a todo instante. A espada, a cruz, o louro. Cecília escuta o tempo, as rosas, os muros. As vozes vêm de 1700, o vento é testemunha: "Selvas, montanhas e rios / estão transidos de pasmo." Há perguntas em toda parte, em toda sombra, em cada rasto. Cecília busca o passado como quem cata ouro. Teme queimar seus dedos com a ponta daquele inferno, daquela espada. Pois "a sede de ouro é sem cura".

quinta-feira, 13 de novembro de 2014

MORRE MANOEL DE BARROS

Considerado um dos maiores autores da língua portuguesa, o poeta mato-grossense estava internado desde o último dia 24 no Hospital Proncor, de Campo Grande (MS), devido a uma obstrução intestinal. Segundo a assessoria do hospital, o poeta faleceu às 8h05, devido à falência múltipla dos órgãos

13 de Novembro de 2014 às 11:26

quarta-feira, 12 de novembro de 2014

CANTIGAS DE FRANÇA

CANTIGAS DE FRANÇA

Genesino Braga

 
Venho de ouvir canções de França, que um chansonnier do mundo alto deixou escapar pela filtração de sua garganta de musgos brandos. Agora, eu trago mais um pouco daquela espiritualidade que iluminou Sarah Bernhardt e Mounet-Sully, que sublimou Musset e Flaubert e que deu a euforia das cores a Renoir e o segredo dos sons a Massenet. Agora, eu sinto mais soberba a força espiritual daquele “Allons enfants de la patrie” que o cântico heróico universalizou em compassos imortais.
O cantor nos transmite, pelos vitrais da sua voz, a luz coada de uma França povoada de imagens felizes. Suas canções estão cheias da ternura e da ironia daqueles vetustos recantos de chão querido, por onde vagaram santos e poetas, distribuindo, entre os homens e as coisas, muito vidro translúcido de Evangelho e os mosaicos de sol da Poesia. Falam-nos de paisagens singelas da campanha, do espírito de um provérbio cheio de bom senso, de algum cenário de porcelana rente ao Loire, de velhas fábulas e canções na boca dos paysannes – e tudo isso num modo de contar e de cantar que é o mais doce e o mais ático do mundo.
Porque, no repertório outado do chansonnier, desfilam as coisas belas, as coisas boas e as coisas amadas da amada França: desde o donaire dos figurinos de Lanvin e de Patou ao cosmopolitismo da Praça Pigalle; desde a suavidade dos perfumes de Guerlain e de Chanel ao formigamento das midinettes descendo das praças para o métro; desde o bouquet dos vinhos de Bourgogne – o Chambertim, o Pommard, os Rosés, o Chablis – ao intrincado das vielas do Templo ou das rampas de Montmartre. Paris está presente naquelas blagues, naquelas estrofes, naquelas boutades do “Ce Soir”, do “C’est si bon”, do “Pigalle”. Toda Paris, absorvente e seducente, com seus teatros, seus cafés, seus cabarés, seus boulevards; a Paris das perspectivas, dos cais do Sena, dos jardins, dos bois, dos museus, da mocidade alegre da Sorbonne e das modas femininas em linhas gráceis e volúveis; a jovem Paris eterna, Paris do amor, do espírito, do trabalho, do gênio, da poesia, da arte, da ciência, da razão de viver; a Paris das mulheres caindo como andorinhas e pétalas sobre a Praça Vendôme e a Concórdia; a Paris das noites feéricas alteando as letras lucifúlgures do “Moulin Rouge”, do “Bal Tabarim”, do “Shéhérazade”, com coristas e vedettes de todas as pátrias, suas cançonetas maliciosas, suas folias...
Toda a França, que tanto amamos e cultuamos, escorre e transborda nas canções que venho de ouvir. A teia de encanto e de afeto, que envolve de longe a saudade do cantor, é a líquida encarnação do mais puro e do mais alto lirismo que emana e esvaza daquelas estrofes sensitivas, plasmando a graça e a verve do encantador espírito de França.
Cantigas de França sempre me embalam e acalentam o coração... 
 
 

sábado, 8 de novembro de 2014

CASA TOMADA

(FOTO DE AURORA FERNANDEZ, VIUVA DE CORTAZAR, MORTA HOJE COM 94 ANOS)

Casa tomada 

Julio Cortazar



  Nos gustaba la casa porque aparte de espaciosa y antigua (hoy que las casas antiguas sucumben a la mas ventajosa liquidación de sus materiales) guardaba los recuerdos de nuestros bisabuelos, el abuelo paterno, nuestros padres y toda la infancia. 
Nos habituamos Irene y yo a persistir solos en ella, lo que era una locura pues en esa casa podían vivir ocho personas sin estorbarse. Hacíamos la limpieza por la mañana, levantándonos a las siete, y a eso de las once yo le dejaba a Irene las ultimas habitaciones por repasar y me iba a la cocina. Almorzábamos al mediodía, siempre puntuales; ya no quedaba nada por hacer fuera de unos platos sucios. Nos resultaba grato almorzar pensando en la casa profunda y silenciosa y como nos bastábamos para mantenerla limpia. A veces llegábamos a creer que era ella la que no nos dejo casarnos. Irene rechazo dos pretendientes sin mayor motivo, a mi se me murió María Esther antes que llegáramos a comprometernos. Entramos en los cuarenta años con la inexpresada idea de que el nuestro, simple y silencioso matrimonio de hermanos, era necesaria clausura de la genealogía asentada por nuestros bisabuelos en nuestra casa. Nos moriríamos allí algún día, vagos y esquivos primos se quedarían con la casa y la echarían al suelo para enriquecerse con el terreno y los ladrillos; o mejor, nosotros mismos la voltearíamos justicieramente antes de que fuese demasiado tarde. 
Irene era una chica nacida para no molestar a nadie. Aparte de su actividad matinal se pasaba el resto del día tejiendo en el sofá de su dormitorio. No se porque tejía tanto, yo creo que las mujeres tejen cuando han encontrado en esa labor el gran pretexto para no hacer nada. Irene no era así, tejía cosas siempre necesarias, tricotas para el invierno, medias para mi, mañanitas y chalecos para ella. A veces tejía un chaleco y después lo destejía en un momento porque algo no le agradaba; era gracioso ver en la canastilla el montón de lana encrespada resistiéndose a perder su forma de algunas horas. Los sábados iba yo al centro a comprarle lana; Irene tenía fe en mi gusto, se complacía con los colores y nunca tuve que devolver madejas. Yo aprovechaba esas salidas para dar una vuelta por las librerías y preguntar vanamente si había novedades en literatura francesa. Desde 1939 no llegaba nada valioso a la Argentina. 
Pero es de la casa que me interesa hablar, de la casa y de Irene, porque yo no tengo importancia. Me pregunto qué hubiera hecho Irene sin el tejido. Uno puede releer un libro, pero cuando un pullover está terminado no se puede repetirlo sin escándalo. Un día encontré el cajón de abajo de la cómoda de alcanfor lleno de pañoletas blancas, verdes, lila. Estaban con naftalina, apiladas como en una mercería; no tuve valor para preguntarle a Irene que pensaba hacer con ellas. No necesitábamos ganarnos la vida, todos los meses llegaba plata de los campos y el dinero aumentaba. Pero a Irene solamente la entretenía el tejido, mostraba una destreza maravillosa y a mi se me iban las horas viéndole las manos como erizos plateados, agujas yendo y viniendo y una o dos canastillas en el suelo donde se agitaban constantemente los ovillos. Era hermoso. 
Cómo no acordarme de la distribución de la casa. El comedor, una sala con gobelinos, la biblioteca y tres dormitorios grandes quedaban en la parte mas retirada, la que mira hacia Rodríguez Peña. Solamente un pasillo con su maciza puerta de roble aislaba esa parte del ala delantera donde había un baño, la cocina, nuestros dormitorios y el living central, al cual comunicaban los dormitorios y el pasillo. Se entraba a la casa por un zaguán con mayólica, y la puerta cancel daba al living. De manera que uno entraba por el zaguán, abría la cancel y pasaba al living; tenía a los lados las puertas de nuestros dormitorios, y al frente el pasillo que conducía a la parte mas retirada; avanzando por el pasillo se franqueaba la puerta de roble y mas allá empezaba el otro lado de la casa, o bien se podía girar a la izquierda justamente antes de la puerta y seguir por un pasillo mas estrecho que llevaba a la cocina y el baño. Cuando la puerta estaba abierta advertía uno que la casa era muy grande; si no, daba la impresión de un departamento de los que se edifican ahora, apenas para moverse; Irene y yo vivíamos siempre en esta parte de la casa, casi nunca íbamos más allá de la puerta de roble, salvo para hacer la limpieza, pues es increíble como se junta tierra en los muebles. Buenos Aires será una ciudad limpia, pero eso lo debe a sus habitantes y no a otra cosa. Hay demasiada tierra en el aire, apenas sopla una ráfaga se palpa el polvo en los mármoles de las consolas y entre los rombos de las carpetas de macramé; da trabajo sacarlo bien con plumero, vuela y se suspende en el aire, un momento después se deposita de nuevo en los muebles y los pianos. 
Lo recordaré siempre con claridad porque fue simple y sin circunstancias inútiles. Irene estaba tejiendo en su dormitorio, eran las ocho de la noche y de repente se me ocurrió poner al fuego la pavita del mate. Fui por el pasillo hasta enfrentar la entornada puerta de roble, y daba la vuelta al codo que llevaba a la cocina cuando escuché algo en el comedor o en la biblioteca. El sonido venia impreciso y sordo, como un volcarse de silla sobre la alfombra o un ahogado susurro de conversación. También lo oí, al mismo tiempo o un segundo después, en el fondo del pasillo que traía desde aquellas piezas hasta la puerta. Me tire contra la pared antes de que fuera demasiado tarde, la cerré de golpe apoyando el cuerpo; felizmente la llave estaba puesta de nuestro lado y además corrí el gran cerrojo para más seguridad. 
Fui a la cocina, calenté la pavita, y cuando estuve de vuelta con la bandeja del mate le dije a Irene:  -Tuve que cerrar la puerta del pasillo. Han tomado parte del fondo.  Dejó caer el tejido y me miró con sus graves ojos cansados.  -¿Estás seguro?  Asentí.  -Entonces -dijo recogiendo las agujas- tendremos que vivir en este lado.  Yo cebaba el mate con mucho cuidado, pero ella tardó un rato en reanudar su labor. Me acuerdo que me tejía un chaleco gris; a mi me gustaba ese chaleco.
Los primeros días nos pareció penoso porque ambos habíamos dejado en la parte tomada muchas cosas que queríamos. Mis libros de literatura francesa, por ejemplo, estaban todos en la biblioteca. Irene pensó en una botella de Hesperidina de muchos años. Con frecuencia (pero esto solamente sucedió los primeros días) cerrábamos algún cajón de las cómodas y nos mirábamos con tristeza. 
-No está aquí.  Y era una cosa mas de todo lo que habíamos perdido al otro lado de la casa.  Pero también tuvimos ventajas. La limpieza se simplificó tanto que aun levantándose tardísimo, a las nueve y media por ejemplo, no daban las once y ya estábamos de brazos cruzados. Irene se acostumbró a ir conmigo a la cocina y ayudarme a preparar el almuerzo. Lo pensamos bien, y se decidió esto: mientras yo preparaba el almuerza, Irene cocinaría platos para comer fríos de noche. Nos alegramos porque siempre resultaba molesto tener que abandonar los dormitorios al atardecer y ponerse a cocinar. Ahora nos bastaba con la mesa en el dormitorio de Irene y las fuentes de comida fiambre. 
Irene estaba contenta porque le quedaba mas tiempo para tejer. Yo andaba un poco perdido a causa de los libros, pero por no afligir a mi hermana me puse a revisar la colección de estampillas de papa, y eso me sirvió para matar el tiempo. Nos divertíamos mucho, cada uno en sus cosas, casi siempre reunidos en el dormitorio de Irene que era más cómodo. A veces Irene decía: 
-Fijate este punto que se me ha ocurrido. ¿No da un dibujo de trébol?  Un rato después era yo el que le ponía ante los ojos un cuadradito de papel para que viese el mérito de algún sello de Eupen y Malmédy. Estábamos bien, y poco a poco empezábamos a no pensar. Se puede vivir sin pensar. 
(Cuando Irene soñaba en alta voz yo me desvelaba en seguida. Nunca pude habituarme a esa voz de estatua o papagayo, voz que viene de los sueños y no de la garganta. Irene decía que mis sueños consistían en grandes sacudones que a veces hacían caer el cobertor. Nuestros dormitorios tenían el living de por medio, pero de noche se escuchaba cualquier cosa en la casa. Nos oíamos respirar, toser, presentíamos el ademán que conduce a la llave del velador, los mutuos y frecuentes insomnios. 
Aparte de eso todo estaba callado en la casa. De día eran los rumores domésticos, el roce metálico de las agujas de tejer, un crujido al pasar las hojas del álbum filatélico. La puerta de roble, creo haberlo dicho, era maciza. En la cocina y el baño, que quedaban tocando la parte tomada, nos poníamos a hablar en vos mas alta o Irene cantaba canciones de cuna. En una cocina hay demasiados ruidos de loza y vidrios para que otros sonidos irrumpan en ella. Muy pocas veces permitíamos allí el silencio, pero cuando tornábamos a los dormitorios y al living, entonces la casa se ponía callada y a media luz, hasta pisábamos despacio para no molestarnos. Yo creo que era por eso que de noche, cuando Irene empezaba a soñar en alta voz, me desvelaba en seguida.) 
Es casi repetir lo mismo salvo las consecuencias. De noche siento sed, y antes de acostarnos le dije a Irene que iba hasta la cocina a servirme un vaso de agua. Desde la puerta del dormitorio (ella tejía) oí ruido en la cocina; tal vez en la cocina o tal vez en el baño porque el codo del pasillo apagaba el sonido. A Irene le llamo la atención mi brusca manera de detenerme, y vino a mi lado sin decir palabra. Nos quedamos escuchando los ruidos, notando claramente que eran de este lado de la puerta de roble, en la cocina y el baño, o en el pasillo mismo donde empezaba el codo casi al lado nuestro. 
No nos miramos siquiera. Apreté el brazo de Irene y la hice correr conmigo hasta la puerta cancel, sin volvernos hacia atrás. Los ruidos se oían mas fuerte pero siempre sordos, a espaldas nuestras. Cerré de un golpe la cancel y nos quedamos en el zaguán. Ahora no se oía nada. 
-Han tomado esta parte -dijo Irene. El tejido le colgaba de las manos y las hebras iban hasta la cancel y se perdían debajo. Cuando vio que los ovillos habían quedado del otro lado, soltó el tejido sin mirarlo.  -¿Tuviste tiempo de traer alguna cosa? -le pregunté inútilmente.  -No, nada.  Estábamos con lo puesto. Me acordé de los quince mil pesos en el armario de mi dormitorio. Ya era tarde ahora. 
Como me quedaba el reloj pulsera, vi que eran las once de la noche. Rodeé con mi brazo la cintura de Irene (yo creo que ella estaba llorando) y salimos así a la calle. Antes de alejarnos tuve lástima, cerré bien la puerta de entrada y tiré la llave a la alcantarilla. No fuese que algún pobre diablo se le ocurriera robar y se metiera en la casa, a esa hora y con la casa tomada. 
 
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quarta-feira, 5 de novembro de 2014

TUFIC RECEBE COMENDA DE MÉRITO CULTURAL

TUFIC RECEBE COMENDA DE MÉRITO CULTURAL NO ACRE


CONSELHO ESTADUAL DE CULTURA DO ACRE CONCEDE COMENDA DE MÉRITO CULTURAL A QUATRO PERSONALIDADES DA CULTURA ACREANA

O Conselho Estadual de Cultura, no próximo dia 05 de novembro, quarta-feira, Dia Nacional da Cultura, confere comendas de Mérito Cultural, em memória e em vida, a quatro personalidades da cultura acreana. Este ano serão brindados “Em Memória” o cientista e escritor tarauacaense Djalma da Cunha Batista e o escritor e jornalista João Mariano da Silva. Na categoria “Em Vida” será agraciado o Padre italiano André Ficarelli, há anos radicado e prestando serviços inestimáveis ao Acre; o outro agraciado é o poeta senamadureirense Jorge Tufic, com trabalhos reconhecidos dentro e fora do país. A cerimônia de premiação ocorrerá no átrio de entrada do Teatro Plácido de Castro, em Rio Branco, na Av. Getúlio Vargas, nesta quarta-feira DIA 05 DE NOVEMBRO, dia da Cultura, às 18h30min. (Com informações repassadas por Clodomir Monteiro, do Conselho Estadual de Cultura)


BREVE HISTÓRICO DOS AGRACIADOS DA COMENDA MÉRITO CULTURAL CATEGORIA “Em vida” FREI ANDRÉ FICARELLI Frei André Ficarelli é italiano, e pertence a Ordem do Servos de Maria. Ficarelli está no Acre desde 1950. É o arquiteto que projetou a Catedral Nossa Senhora de Nazaré, em Rio Branco, cuja construção teve início em 1948, com inauguração em 1959.

POETA JORGE TUFIC O poeta e jornalista Jorge Tufic é acreano de Sena Madureira, nascido em 13 de agosto de 1930. Tufic é consagrado como um dos melhores e mais importantes poetas de sua geração, tendo exercido um papel imprescindível na literatura amazonense (Clube da Madrugada), cearense e acreana. Em 2012, recebeu o Prêmio Raul Bopp da União Brasileira de Escritores (RJ), pela obra “Quando as noites voavam”. Jorge Tufic pertece às Academias de Letras do Acre, do Amazonas e de Letras e Artes do Nordeste. É ainda autor do Hino do Estado do Amazonas.

 CATEGORIA “Em Memória” JORNALISTA JOÃO MARIANO DA SILVA João Mariano da Silva nasceu em Aracati, estado do Ceará, em 13 de maio de 1897. Chegou ao Acre no início de 1920, estabelecendo-se em Cruzeiro do Sul. Foi professor primário e redator do famoso jornal O Rebate, jornal fundado em 1921, e que veio a ser o de maior circulação do Território, o qual foi editor por 50 anos, desde 1946 (data em que João Mariano o assumiu) até 31 de março de 1972, quando faleceu. João Mariano marcou a história do jornalismo acreano.

CIENTISTA E ESCRITOR DJALMA DA CUNHA BATISTA Djalma da Cunha Batista nasceu em Tarauacá (AC) em 20 de fevereiro de 1916, e faleceu em Manaus, no dia 20 de agosto de 1979. Cientista, pesquisador, escritor, literato, homem de profunda cultura. Formou-se em Medicina pela conceituada Faculdade de Medicina da Bahia, em 1939, tornando-se um dos médicos mais conceituados da região Norte pelas suas pesquisas, entre outras no campo da Tisiologia. Foi presidente por três vezes da Academia Amazonense de Letras e presidente do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA). Publicou, entre outras, as seguintes obras: Letras da Amazônia (1938); Da Habitalidade na Amazônia (1965); O Complexo da Amazônia (1976); Cartas da Amazônia (1989, póstuma), publicado por Guimarães de Oliveira. Em 1996 foi publicado sobre ele o livro “Djalma Batista: um humanista da Amazônia”. A editora Valer, do Amazonas, reeditou algumas de suas conferências num livro intitulado Amazônia, Cultura e Sociedade (2003), e O Complexo da Amazônia, a mais importante obra de Djalma Batista.

terça-feira, 4 de novembro de 2014