sábado, 29 de dezembro de 2012

sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

O outro lado do glamour: estudo diz que estrelas musicais morrem mais cedo

O outro lado do glamour: estudo diz que estrelas musicais morrem mais cedo

O British Music Journal analisou o percurso de 1489 músicos que atingiram o estrelato entre 1956 e 2006
O estilo de vida é determinante, segundo o relatório, com tantos mortos em consequência da dependência de drogas e álcool, quanto de cancro e doenças cardiovasculares
Eles vivem depressa, vivem glamourosamente, são a encarnação das nossas ambições e fantasias. Mostram-nos que, como cantava o Conjunto Académico João Paulo, "existe um mundo melhor para lá..." Eles, as estrelas da música, morrem mais cedo que nós, comuns mortais. É o que diz um estudo do Centro de Saúde Pública da Universidade John Moore, em Liverpool. Título: Dying to be famous [Morrendo para ser famoso, em tradução literal].

O estudo, publicado no British Medical Journal, centrou-se no mundo anglo-saxónico - Reino Unido e EUA - e teve como base 1489 músicos que atingiram a fama, ou seja, a presença no Top 40 americano ou britânico, entre 1956 e 2006. Definido o grupo de estudo, foi comparada a sua longevidade com a expectativa de vida geral, tendo em conta o sexo, nacionalidade e origem étnica, no momento em que cada um dos músicos ganhou notoriedade - por exemplo, Elvis Presley, que saltou para o estrelato em 1956, teve como base de comparação a longevidade de um americano branco de 21 anos em 1955.
Registe-se que 9,2% das estrelas analisadas morreram durante o período analisado; que o estilo de vida é determinante, com tantos mortos em consequência da dependência de drogas e álcool, quanto de cancro e doenças cardiovasculares. E que as estrelas americanas, e em particular as negras, registam mortalidade mais elevada. Quarenta anos após atingirem a fama, as possibilidades de sobrevivência dos músicos americanos, comparadas com as da população normal, são de 87,6%. Já os britânicos mantêm-se abaixo da média até 36 anos de estrelato, regressando depois aos valores do povo não músico e não famoso. Segundo os autores, esta discrepância pode ser justificada pelas diferenças na assistência social e acesso a cuidados de saúde na Europa e nos Estados Unidos - o Estado social parece fazer a diferença. Além disso, afirmou um dos autores do estudo, Mark Bellis, "o comportamento de risco nos Estados Unidos é diferente, dado o fácil acesso a armas".
Que as estrelas "pop/rock, punk, rap, R&B, electrónica e new age" - géneros abordados no estudo - têm vidas mais curtas é convicção presente na cultura popular em lemas como "Vive depressa, morre jovem e deixa um cadáver bonito", e, claro, no famoso "Clube dos 27" a que pertencem Jim Morrison, Brian Jones, Jimi Hendrix, Janis Joplin, Brian Jones, Kurt Cobain ou Amy Winehouse. O estudo confirma maior tendência para a morte prematura, mas destrói a ideia dos 27 anos como fronteira trágica. Entre os 137 mortos identificados, apenas dez pertencem ao dito clube: a idade média é 45,2 anos para os americanos e de 39,6 para os britânicos.
O estudo apresenta ainda curiosidades. Músicos a solo têm mais probabilidades de morrer prematuramente que os integrados numa banda (9,8% vs 5,4% no Reino Unido; 22,8 vs 10,2% nos EUA). E, se os anos 1960 e 1970 foram as décadas de todos os excessos - "sexo, drogas e rock"n"roll", recordemos -, a partir da de 1980 aumenta a taxa de sobrevivência das estrelas, mais protegidas pela indústria e pela medicina. A ênfase, porém, é posta noutros dados. Dos músicos mortos 47,2% provinham de famílias disfuncionais ou desfavorecidas. E quatro em cinco dos que morreram por abuso de substâncias ou em contexto de violência sofreram abusos na infância. Conclusão de Mark Bellis, citado pelo Independent: "As pessoas podem ver a música como uma saída. Muitos podem pensar que milhões de libras acabará com o trauma. Mas esse não parece ser o caso."

quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

Efeitos da seca podem durar anos na Floresta Amazônica

Efeitos da seca podem durar anos na Floresta Amazônica

Segundo estudo publicado na revista PNAS, efeitos a longo prazo da seca de 2005 colocam em risco a sobrevivência da floresta

Agência Estado |                  
A Floresta Amazônica pode demorar vários anos para se recuperar dos efeitos de uma grande seca, colocando em risco a sua própria sobrevivência caso esses eventos passem a ocorrer com mais frequência - como preveem alguns modelos de mudanças climáticas para a região nas próximas décadas. O alerta é de um estudo publicado na última edição da revista PNAS, que avaliou, pela primeira vez, os efeitos a longo prazo da grande seca de 2005 na Amazônia.
Leia mais: Emissões de dióxido de carbono por desmatamento da Amazônia caem 16%
Agência Brasil
Impactos da estiagem ainda eram perceptíveis na cobertura da floresta quatro anos depois

Saiba também: Despovoamento aumenta número e extensão de incêndios na Amazônia
Segundo os pesquisadores, os impactos da estiagem ainda eram perceptíveis no dossel (cobertura) da floresta quatro anos depois, em 2009, na véspera de uma outra grande seca, em 2010, apesar de um aumento de precipitação no período intermediário. O estudo foi feito por meio de imagens de satélite no espectro de micro-ondas, que permitiram analisar variações nos parâmetros de umidade e biomassa sobre grandes áreas florestais.
Leia também: Madeireiros ilegais desafiam combate ao desmatamento na Amazônia
Os resultados indicam que a floresta ainda sofria com os efeitos da seca de 2005 (com redução de biomassa e ressecamento do dossel) quando foi atingida pela seca de 2010. Segundo os cientistas, se as estiagens continuarem a acontecer numa frequência de 5 a 10 anos, o efeito cumulativo poderá alterar significativamente e permanentemente a estrutura biológica da floresta.
Pesquisa do IBGE: Brasil detém segunda maior área florestal do planeta
A pesquisa foi liderada por pesquisadores da Nasa, nos Estados Unidos, em colaboração com os brasileiros Luiz Aragão, da Universidade de Oxford, na Inglaterra, e Liana Anderson, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), no interior paulista.
Os dados do estudo vão até 2009, mas os pesquisadores preveem que os efeitos observados se repetiram - e provavelmente se intensificaram - nos últimos anos, desde a seca de 2010, que foi a maior já registrada na Amazônia. As informações são do jornal O Estado de S.Paulo.
     

LUA CHEIA AMANHÃ


quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

terça-feira, 25 de dezembro de 2012

CANÇÃO DE VERÃO

CANÇÃO DE VERÃO


Preciso da eternidade
como preciso do vento
que sopra sobre a cidade.

Entre o que fica e o que passa
vejo no verão sinistro
um ninho cair da árvore.

A morte ainda é lembrança:
nome inscritio numa lápide.
A morte ainda é esperança

promessa de eternidade
ventania! ventania
soprando sobre a cidade.

 
Lêdo Ivo

Do livro: "Poesia completa - 1940-2004", Top Books, 2004, RJ

MULHER DAS FLORES

http://bobines.blogs.liberation.fr/bobines/2012/12/femmes-fleurs-pour-no%C3%ABl-paien.html

segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

NA NOITE DE NATAL A ÁRVORE ACESA

 
Noite de Natal
Rogel Samuel
O velho naquela noite finalmente saiu de casa. Se é que aquilo onde morava era uma casa. Vivia só. Nem sabia se ainda tinha família. Abriu a porta a medo, olhou para os lados. Prosseguiu pela calçada deserta e chuvosa. A noite era escura e ele via, ao longe, a grande árvore de natal da prefeitura acesa. Virou a esquina e se perdeu. Nas dobras de sua consciência esqueceu-se de todo.
 
Aquela rua descrevia um arco que se estendia até a amurada do mar. Quando criança, o velho pulava dali para a pequena praia e se jogava no mar. Como por um cortinado que se abria, ele reviu seus irmãos e primos, sua mãe Aurora, seu tio Rigoberto. A noite era escura e ele via, ao longe, a grande árvore de natal da prefeitura acesa.
 
Aquela rua deserta e o velho descia no meio da noite. Não havia ninguém ali e ao longe se viam os raros carros que passavam na estrada de asfalto rumo à costa Leste da cidade. Não havia ninguém ali além do céu escuro e do ruído das pedras úmidas cortadas pelas curtas ondas do mar calmo. O velho desceu a escadaria velha arrastando os pés. Uma vaga sensação de alegria inundava seus olhos de lágrimas, pois ele sentia ali a curva do caranguejo onde sua família se recreava aos domingos.
A noite era escura e ele via, ao longe, a grande árvore de natal da prefeitura acesa.
 
 

LEDO IVO: A NOITE BRANCA


        


A NOITE BRANCA

Uma fonte clara e musical
canta na noite branca de Roma
e dos jardins pagãos vem o aroma
que embalsama as camas dos amantes.

A água de si mesma enamorada
cinge a fronte fria das estátuas
de dia feridas pelas fátuas
vozes dos turistas sucessivos.

A memória oculta das cloacas
narra o seu trajeto de água e fábula
pela boca dos tritões e máscaras.

No brancor da praça adormecida
Aparece um travesti aidético
E ouve a fonte, a eterna voz da vida.
Lêdo Ivo
Do livro: Poesia Completa 1940 - 2004, estudo introdutório Ivan Junqueira, Topbooks, 2004, RJ
 
TEXTO DE BLOCOSONLINE

http://www.blocosonline.com.br/literatura/autor_poesia.php?id_autor=2130&flag=nacional
          

Cinzas do Acadêmico e poeta Lêdo Ivo serão trasladadas para o Rio de Janeiro e sepultadas no mausoléu da ABL

Cinzas do Acadêmico e poeta Lêdo Ivo serão trasladadas para o Rio de Janeiro e sepultadas no mausoléu da ABL

Embora ainda não se tenha a data fixada, as cinzas do Acadêmico e poeta Lêdo Ivo serão trasladadas para o Rio de Janeiro nos primeiros dias do ano que vem, logo após a cremação de seu corpo, que será feita na Europa. Suas cinzas serão sepultadas no Mausoléu da Academia Brasileira de Letras (ABL), no Cemitério São João Batista.

Lêdo Ivo, ocupante da Cadeira nº 10 da ABL, que assumiu em 1986, na sucessão de Orígenes Lessa, morreu hoje às 02:00 horas, aos 88 anos de idade, na cidade espanhola de Sevilha, vítima de um infarto. Faleceu nos braços do filho, o artista plástico Gonçalo Ivo – que vive em Paris e o acompanhava na visita a Sevilha. Ele deixa três filhos, Maria da Graça, Gonçalo e Patrícia, além de quatro netos e dois bisnetos.

Logo após tomar conhecimento da morte do Acadêmico, a Presidente da ABL, Acadêmica Ana Maria Machado, determinou que seja observado luto oficial por três dias, convocou sessão acadêmica extraordinária para o dia 10 de janeiro, e que a bandeira da ABL fosse hasteada a meio mastro. "Poeta e ficcionista versátil, de obra variada que abarcava vários gêneros, Lêdo Ivo gozava de uma vitalidade assombrosa para seus quase noventa anos e sua saúde frágil. Falava alto, gostava de comer bem, esmerava-se em contar histórias divertidas. Nos últimos tempos, essa disposição estava sendo comprovada todos os dias, nas sucessivas viagens que se multiplicavam , fossem para participar de festivais internacionais de poesia, fossem para receber homenagens no exterior, sobretudo nos países de língua hispânica”, afirmou Ana Maria Machado."

O Acadêmico Marcos Vilaça, ex-presidente da ABL, assim que foi informado da morte do poeta, afirmou : "Lêdo Ivo foi um dos mais assíduos confrades e um colaborador dedicado. Nossa amizade nasceu ainda no tempo em que ele foi presença constante no Recife, onde fez boas amizades no meio intelectual. Gilberto Freyre e Mauro Mota lhe dedicavam muita admiração".

O Acadêmico

Quinto ocupante da Cadeira n 10, eleito em 13 de novembro 1986, na sucessão de Orígenes Lessa e recebido em 7 de abril de 1987 pelo acadêmico Dom Marcos Barbosa. Recebeu os acadêmicos Geraldo França de Lima, Nélida Piñon e Sábato Magaldi. Lêdo Ivo nasceu no dia 18 de fevereiro de 1924, em Maceió (AL), filho de Floriano Ivo e Eurídice Plácido de Araújo Ivo. Casado com Maria Lêda Sarmento de Medeiros Ivo (1923-2004), tem o casal três filhos: Patrícia, Maria da Graça e Gonçalo.

Fez os cursos primário e secundário em sua cidade natal. Em 1940, transferiu-se para o Recife, onde ocorreu sua primeira formação cultural. Em 1941, participou do I Congresso de Poesia do Recife. Em 1943 transferiu-se para o Rio de Janeiro e se matriculou na Faculdade Nacional de Direito da Universidade do Brasil, pela qual se formou. Passou a colaborar em suplementos literários e a trabalhar na imprensa carioca, como jornalista profissional. Em 1944, estreou na literatura com As Imaginações, poesia, e no ano seguinte publicou Ode e Elegia, distinguido com o Prêmio Olavo Bilac, da Academia Brasileira de Letras. Nos anos subseqüentes, sua obra literária avoluma-se com a publicação de livros de poesia, romance, conto, crônica e ensaio.

Em 1947, seu romance de estréia As Alianças mereceu o Prêmio de Romance da Fundação Graça Aranha. Em 1949, pronunciou, no Museu de Arte Moderna de São Paulo, a conferência “A geração de 1945”. Nesse ano, formou-se pela Faculdade Nacional de Direito, mas nunca advogou, preferindo continuar exercendo o jornalismo. No início de 1953, foi morar em Paris. Visitou vários países da Europa e, em fins de 1954, retornou ao Brasil, reiniciando suas atividades literárias e jornalísticas. Em 1963, a convite do governo norte-americano, realizou uma viagem de dois meses (novembro e dezembro) pelos Estados Unidos, pronunciando palestras em universidades e conhecendo escritores e artistas.

Ao seu livro de crônicas A Cidade e os Dias (1957) foi atribuído o Prêmio Carlos de Laet, da Academia Brasileira de Letras. Como memorialista, publicou Confissões de um Poeta (1979), distinguido com o Prêmio de Memória da Fundação Cultural do Distrito Federal, e O Aluno Relapso (1991). Seu romance Ninho de Cobras foi traduzido para o inglês, sob o título Snakes’ Nest, e em dinamarquês, sob o título Slangeboet. No México, saíram várias coletâneas de poemas seus, entre as quais La Imaginaria Ventana Abierta, Oda al Crepsculo, Las Pistas, Las Islas Inacabadas, La Tierra Allende, Mía Patria Húmeda e Réquiem. Em Lima, foi editada uma antologia, Poemas; na Espanha sairam La Moneda Perdida e La Aldea de Sal; nos Estados Unidos, Landsend, antologia poética; na Holanda, a seleção de poemas Vleermuizen em blauw Krabben (Morcegos e goiamuns).

No Chile, saiu a antologia Los Murciélagos. Na Venezuela, foi publicada a antologia El Sol de los Amantes. Na Itália foram publicados Illuminazioni e Réquiem. Em 1973, foram conferidos a Finisterra o Prêmio Luísa Cláudio de Sousa (poesia) do PEN Clube do Brasil, o Prêmio Jabuti, da Câmara Brasileira do Livro, e o Prêmio da Fundação Cultural do Distrito Federal e o Prêmio Casimiro de Abreu do Governo do Estado do Rio de Janeiro. O seu romance Ninho de Cobras conquistou o Prêmio Nacional Walmap de 1973. Em 1974, Finisterra recebeu o Prêmio Casimiro de Abreu, do Governo do Estado do Rio de Janeiro. Em 1982, foi distinguido com o Prêmio Mário de Andrade, conferido pela Academia Brasiliense de Letras ao conjunto de suas obras. Ao seu livro de ensaios A Ética da Aventura foi atribuído, em 1983, o Prêmio Nacional de Ensaio do Instituto Nacional do Livro. Em 1986, recebeu o Prêmio Homenagem à Cultura, da Nestlé, pela sua obra poética. Eleito “Intelectual do Ano de 1990”, recebeu o Troféu Juca Pato do seu antecessor nessa láurea, o Cardeal Arcebispo de São Paulo, Dom Paulo Evaristo Arns. Ao seu livro de poemas Curral de Peixe o Clube de Poesia de São Paulo atribuiu o Prêmio Cassiano Ricardo – 1996. Em 2004 foi-lhe outorgado o Prêmio Golfinho de Ouro do Governo do Estado do Rio de Janeiro, pelo conjunto da obra.

Seu romance Ninho de Cobras foi traduzido para o inglês, sob o título Snakes’ Nest, e em dinamarquês, sob o título Slangeboet. No México, saíram várias coletâneas de poemas seus, entre as quais La Imaginaria Ventana Abierta, Oda al Crepsculo, Las Pistas, Las Islas Inacabadas e La Tierra Allende, Mia pátria húmeda, Réquiem, Donde La geografia es uma esperanza, Poesia en general, El mar,los Sueños y los Pájaros. Na Venezuela saiu El sol de los amantes. Em Lima, foi editada uma antologia, Poemas; nos Estados Unidos, Landsend, antologia poética; na Holanda, a antologia bilingue Vleermuizen em blauw Krabben (Morcegos e goiamuns).

Na Itália foram publicadas a antologia Illuminazioni e uma tradução do Réquiem e no Chile a antologia poética Los Murciélagos. Na Espanha, foram publicadas as antologias La Moneda perdida e La Aldeia de sal e os livros de poemas Rumor Nocturno e Plenilnio. No plano internacional, Lêdo Ivo é detentor do Prêmio de Poesia del Mundo Latino Victor Sandoval (México, 2008), do Prêmio de Literatura Brasileira da Casa de las Américas (Cuba, 2009) e do Prêmio Rosalía de Castro, do PEN Clube da Galícia (Espanha, 2010). Ao longo de sua vida literária, Lêdo Ivo tem sido convidado numerosas vezes para representar o Brasil em congressos culturais e participar de encontros internacionais de poesia.

É sócio efetivo da Academia Alagoana de Letras, sócio honorário do Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas, sócio efetivo da Academia de Letras do Brasil, sócio honorário da Academia Petropolitana de Letras; sócio correspondente do Instituto Histórico e Geográfico do Distrito Federal.

Condecorações: Ordem do Mérito dos Palmares, no grau de Grã-Cruz; Ordem do Mérito Militar, no grau de Oficial; Ordem do Rio Branco, no grau de Comendador; Medalha Manuel Bandeira; Cidadão honorário de Penedo, Alagoas. É Grande Benemérito do Real Gabinete Português de Leitura do Rio de Janeiro e Doutor Honoris Causa pela Universidade Federal de Alagoas. Pertence ao PEN Clube Internacional, sediado em Paris.

 

domingo, 23 de dezembro de 2012

Lêdo Ivo morre aos 88 anos

Lêdo Ivo morre aos 88 anosPicasa 3.0:



A «POESIA COMPLETA» DE LÊDO IVO

 

Rogel Samuel

 

 

É um livro enorme, 1.099 páginas. Gosto de ler esse tipo de livro, «completo». É bom ver uma obra inteira, integral, completa. Não acho que este vasto volume vai ser completo, final. Mesmo com mais de 80 anos, Lêdo Ivo parece continuar com muito fôlego. Basta ler o seu último livro, o «Plenilúnio», com poemas de 2001-2004. Um dos seus melhores livros.

Gosto sim de ler essas obras completas, mas raramente leio as introduções críticas. Como sou um crítico literário de carteirinha, profissional, raramente leio os confrades. Com exceção, claro, aos gênios, como  Roberto Schwarz , como Haroldo de Campos.

Pois me enganei: li, com admiração, o texto introdutório de Ivan Junqueira. Apesar da ironia do título («Quem tem medo de Lêdo Ivo?»), traça excelente visão da poesia do poeta e da poesia brasileira como um todo.

O primeiro poema de «Plenilúnio» dá nome ao livro e surpreende. Na força, quase brutal, de seus versos, como em:

 

Uma lua enorme

paira no céu pálido

..................

lua dissoluta

dos filhos da puta

 

Depois o poeta, em «Soneto da neve», diz da neve «branca como o esperma», e inveja a noite («cobra escondida / entre as bananeiras») - e «os anjos ocultos no bosque», e «as almas, como o gelo, se evaporam  /  no dia findo», onde «galinhas brancas /  ciscam o universo». O poeta se encapsula «Na rua General Polidoro»: «Minha vida eterna / é problema meu» ou no «Soneto injurioso», onde «o silêncio sucede ao burulho infernal. / Assim será a morte, assim será o dia / em que a morte virá, fria como uma jia» - «Assim será a morte, a velha puta escrota / que avança para nós escondida na bruma».

 

LEDO IVO

 

A VÃ FEITIÇARIA

 

 

O feiticeiro Lêdo Ivo escreveu:

 

Invento a flor e, mais que a flor, o orvalho

que a torna testemunha desta aurora.

Invento o espelho e, mais que o espelho, o amor

onde eu me vejo, vivo, num sarcófago.

E a vida, este galpão de sortilégios,

deixa que eu a invente com palavras

que são dragões vencidos pela mágica.

E não me espanta que eu, sendo mortal,

sujeito à injúria de tornar-me em pó,

crie uma rosa eterna como as rosas

inexistentes nesta flora efêmera.

Sonho de um sonho, a vida, ao vento, escoa-se

em vãs lembranças. Minha rosa morre

por ser eterna, sendo o mundo vão.

 

 

Encontro este poema, que li quase menino, encontro ao acaso, folheando a «Poesia completa» de Lêdo Ivo, poema que recito quase de cor, como tudo por que a gente apaixona na adolescência, mas que, hoje vejo, não nunca lhe penetrei os labirintos de sentido contidos escondidos entre aqueles misteriosos versos, meio herméticos, daquela feitiçaria... Mas necessita a poesia ser realmente compreendida? Porque eu continuo lendo, hoje relendo, entoando esses versos e vejo que bailo na  musicalidade de suas sílabas, seu invento, seu encanto, e me delicio pelo que nada sei, hipnotizado por suas metáforas feiticeiras.

 

Os primeiros versos dizem:

 

Invento a flor e, mais que a flor, o orvalho

que a torna testemunha desta aurora.

 

Ora, agora, vejo, perturbado, emocionado, que o sujeito poético inventou a flor, o orvalho, o espelho, o amor, a vida, a rosa eterna, a rosa!, a rosa mística!, o sonho, o sonho de um sonho, a vida, o vento, a rosa eterna, o mundo vão...

 

Sim, eu logo que tomo este gigantesco volume das «Poesias completas» (são 1099 páginas!), logo eu senti que o encontraria, por uma intuição de leitor deste Ivo - mas logo me desviei e comecei lendo o «Estudo introdutório» do poeta Ivan Junqueira, que me convenceu e agradou. Ivo é, segundo Ivan, aquele «lírico elegíaco», cujo enigma é não seguir o breviário estético de sua geração de 45, ainda que, como todos os outros, nunca se libertou da «idéia parnasiana» que em todos nós nasce, morre e renasce... Desde Rimbaud. Aliás, diz Ivan Junqueira, que o verso «desabo em ti como um bando de pássaros» poderia ter sido escrito por Rimbaud, assim como:

 

Muda-se a noite em dia porque existes

feminina e total entre os meus braços

 

E, diríamos nós, que os versos:

 

e o tempo entronizado sai da mó

que transforma as austrálias em diademas

 

São dos mais belos daquela poética rimbaudiana de que todos os poetas nunca se libertaram de todo, por serem contagiados pelo barco bêbado da invenção da poesia moderna - e Lêdo Ivo também, mas logo se libertou, posteriormente.

 

Cheio de sortilégios é Lêdo Ivo poeta, feitiçaria nada vã da invenção das palavras, criatura de uma rosa eterna que vai além dessas floras efêmeras - eterna porque morre, e morre por ser eterna neste mundo vão - curiosa antítese que me lembra uma página da filósofa Hannah Arendt em que fez a distinção entre eternidade e imortalidade.

A destruição de Roma mostrou cruelmente que nenhum produto do homem pode ser considerado eterno.

A nossa feitiçaria é vã.

 

Sonho de um sonho, a vida, ao vento, escoa-se

em vãs lembranças. Minha rosa morre

por ser eterna, sendo o mundo vão.

 

 

NA NOITE DE NATAL

NA NOITE DE NATAL
 
Rogel Samuel
 
Natal de sempre. Não sentia falta. Não lastimava. Necessitava estar livre, espaço da solidão. Ele era, estava exilado. Mesmo dentro do próprio país. Natal, festa familiar. Não possuía família. Nem pátria. Por isso, naquela noite de Natal, dirigindo naquela estrada deserta, naquele país distante e frio, de que nem sabia o nome, nunca soube onde estava, nunca soube como foi parar ali. Perdido. Isolado. No meio da noite de natal. Ruas, estradas desertas. Casas altas. Casas fechadas. Muros altos. Estranha antiga fortaleza. Paisagem espanhola. Ele dirigia, mãos frias coladas ao volante. Tudo ruindo. Mesmo para ele, acostumado à fuga, tantas cidades, países tantos. O nunca acabar. No escuro. Frio.
 
Então, a última cidade passou, mas a estrada continuou.
 
Florestas e morros escuros. Um vento gélido percorria a alta noite cantando como um fantasma. Ele continuava. Os faróis do carro lambendo as margens com sua língua de luz fraca.
 
Foi quando percebeu um clarão vindo de algum lugar, de casa próxima, à beira da estrada.
 
Para lá se dirigiu.
 
Próximo, havia uma casa, ou melhor, um casebre. Como ele estava muito cansado, estacionou perto, e foi andando até aquele lugar, onde esperava poder descansar.
 
Chegou. Bateu na porta. Ninguém. Entrou, a porta aberta. Havia o calor simples e humano vindo da lareira acesa. O lugar iluminado e bom. Mas ninguém lá. Os móveis simples, velhos. Porém limpos. Poucas peças, cadeiras, a mesa, o aparador, sobre o qual havia um presépio. Mas sem o menino Jesus. 
 
“Já volto”, escrito estava num pedaço de papel, ao lado do presépio. Que importava aquela frase, aquele aviso? Ele estava cansado e não compreendia. Aninhou-se perto da lareira e dormiu brutalmente, num desmaio.
 
Dormiu por muitas horas.
 
Quando acordou, o sol brilhava, a lareira apagada, o frio passara, o tempo bom. No papel em cima do aparador, escrito: “Bom dia”; e no presépio, o menino Jesus.
 
Ele partiu. No caminho viu que as árvores tinham florido e estavam cheias de cânticos de pássaros.
 

sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

O VERÃO CARIOCA


O sol do verão

 

Rogel Samuel

 

O sol, o verão. O brilho intenso, os ares claros, as nuvens raras. No Rio é tempo de amar.

         Lembro-me de crônica de Rubem Braga, sobre o começo do verão.

         Um dia - e não sei se já contei - estávamos na biblioteca da Faculdade que na época era a FNFi, ou Faculdade Nacional de Filosofia da Universidade do Brasil. Ficava onde hoje está a Academia de Letras.

         Era manhã cedo.

         Entra um bêbado.

Um homem em desalinho, mas bem vestido.

Grita:

         - Tem meus livros aí?

         Ivete, a diretora da biblioteca, manda chamar os funcionários para que ponham para fora o intruso.

         Mas não deixamos e ele se reuniu conosco.

         Era Rubem Braga.

         Tinha acabado de ser embaixador, ou coisa assim.

         Não disse quem era, mas nos contou sua vida (com detalhes indiscretos que não devo contar).

Escreveu um poema para minha amiga Maria Alice (que faleceu este ano).

         Falou de literatura, poesia, vida. De Copacabana.

         Narrou suas mágoas.

Braga é um dos maiores escritores do país.

Seu texto, comparável a Clarice, a Machado, a Francisco Manuel de Melo.

Dom Francisco Manuel de Melo (1608-1666) é autor da CARTA DE GUIA DOS CASADOS, escrita na prisão, que fala 'do amor e da obediência'.

Diz Manuel de Melo: 'Não sou já mancebo. Criei-me em cortes; andei por esse mundo; atentava para as coisas; guardava-as na memória. Vi, li, ouvi."

O texto seco, sem adjetivos, direto e elegante. Como eu gosto.

' Estes serão os textos, estes os livros que citarei a V. Mercê, neste papel; onde, juntas algumas histórias que me forem lembrando, pode muito bem ser não sejam agora menos úteis que essa máquina de gregos e romanos, de que os que chamamos doutos, para cada coisa nos fazem prato, que às vezes nos enfastia'.

Mas meu assunto é o sol.

O sol do verão me alucina.

         E de Braga a D. Francisco Manuel de Melo passei.

Precisamos aprender a escrita com D. Francisco. E a bem casar.

Minha amiga X me critica. Diz que a minha linguagem é telegráfica.

Sim. É. Corto mais do que introduzo palavras.

Meu ideal é escrever uma crônica de uma única linha.

 

O FIM DO MUNDO


O FIM DO MUNDO

 

Rogel Samuel

 

Nasceu em Montigny- Le-Roy, França, em 26 de fevereiro de 1842. Faleceu em Juvissy, também na França, no 4 de junho de 1925.

 

Cammile Flammarion escritor de talento, astrônomo, pertenceu ao Observatório de Paris, de onde se retirou em 1862, ao publicar "A pluralidade dos mundos habitados”, texto de  argumentação dentro dos conhecimentos da época. Premiado pela Academia Francesa com o prêmio Montyon, em 1880, o seu livro "Astronomia Popular".

 

Seu prestígio como escritor junto à crítica universitária prejudicado porque era espírita, crítica sempre muito preconceituosa a vários respeitos.

 

Ele esteve, desde o início da doutrina espírita, perto de Allan Kardec, de quem foi amigo íntimo até a morte. Discursou junto ao túmulo de Kardec, no Cemitério de Montmartre, falando do «pensamento científico e filosófico» do espiritismo.

 

Seu tema principal a tese da vida em outros planetas além do nosso.

 

Escreveu muito: "Os Mundos Imaginários e os Mundos Reais", "As Maravilhas Celestes", "Deus na Natureza", "Contemplações Científicas", "Estudos e Leitura sobre Astronomia", "Atmosfera", "Astronomia Popular", "Descrição Geral do Céu", "O Mundo antes da Criação do Homem", "Os Cometas", "As Casas Mal- Assombradas", "Narrações do Infinito", "Sonhos Estelares", "Urânia", "Estela", "O Desconhecido", "A Morte e seus Mistérios", "Problemas Psíquicos" etc.

 

Um livro de Flammarion sempre me interessou: "O Fim do Mundo" (Rio de Janeiro, Federação espírita brasileira, 2001, http://www.febrasil.org.br/). No Brasil vendeu perto de 48 mil exemplares.

 

Li quando criança, na casa de meu pai.

 

Li mal, em francês. Mas li com sofreguidão.

 

Anos depois reli numa edição comprada num sebo.

 

Agora reli com o mesmo entusiasmo, depois de ver um desses filmes catastrofistas como «Deep impact» (Impacto profundo) dirigido por Mimi Leder, com Robert Duvall e Vanessa Redgrave de 1998. E «Armageddon», também de 1998, dirigido por Michael Bay.

 

«Deep impact» é um filme nitidamente inspirado no livro de Cammile Flammarion: um cometa se choca com a Terra.

 

A influência de Flammarion nesses filmes é imensa, seu livro foi publicado em 1893.

 

Ele previu a União européia, o voto feminino, os grandes aviões comerciais etc.

 

Diz que as mulheres ocuparão papel decisivo na política de desmilitarização do mundo e no fim das guerras.

 

No seu livro aparece algo que seria um computador moderno.

 

Mas prevê um desastre: a destruição da natureza, a degradação do meio-ambiente, a diminuição da água potável, a degeneração das condições de vida no planeta.

 

Atualíssimo.

 

 

 

 

quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Nasa divulga vídeo 'desconstruindo' apocalipse maia

Nasa divulga vídeo 'desconstruindo' apocalipse maia

IRENE KLOTZ - Reuters
A Nasa tem tanta certeza de que o dia 22 de dezembro chegará que já postou no YouTube um vídeo intitulado "Por que o mundo não acabou ontem".


Cientistas dizem que os rumores que correm na internet sobre o fim prematuro da Terra foram motivados por um mal-entendido a respeito do calendário maia, cujo ciclo de contagem longa termina, conforme o calendário gregoriano, em 21 de dezembro de 2012.

"É apenas o fim de um ciclo e o começo de um novo. É como o 31 de dezembro, nosso calendário acaba, mas um novo calendário para o ano seguinte começa em 1o de janeiro", diz em outro vídeo no YouTube Don Yeomans, chefe do programa de Objetos Próximos da Terra do Laboratório de Propulsão a Jato da Nasa, em Pasadena, na Califórnia.

Segundo a história que circula na internet, um enorme planeta desgarrado chamado Niburu estaria em rota de colisão com a Terra.

"Se fosse, já o teríamos visto há muito tempo, e se ele fosse por algum motivo invisível, teríamos visto seus efeitos nos planetas vizinhos. Milhares de astrônomos que varrem os céus noturnos diariamente não viram isso", afirmou Yeomans.

No entanto, milhares de místicos e sonhadores da Nova Era apareceram em antigos templos maias do México e da América Central, na esperança de testemunharem o surgimento de uma nova era quando chegar o dia do "fim do mundo".

Não estaria então a Nasa tentando esconder algo, para evitar o pânico?

"Dá para imaginar milhares de astrônomos mantendo o mesmo segredo do público por vários anos?", argumenta Yeomans.

Inicialmente, Niburu, também conhecido como Planeta X, deveria colidir com a Terra em maio de 2003, mas quando isso não aconteceu o apocalipse foi adiado por seus seguidores para coincidir com o fim de um dos ciclos do antigo calendário pré-colombiano, no solstício de 21 de dezembro de 2012.

Outros eventos celestes que, garante a Nasa, não irão acontecer: um alinhamento planetário que provoque uma enorme maré ou o total escurecimento da Terra; uma reversão na rotação da Terra; o impacto de um asteroide gigante; uma gigantesca tempestade solar.

"Desde o começo do tempo registrado, já houve literalmente centenas de milhares de previsões sobre o fim do mundo", disse Yeomans. "Ainda estamos aqui."

MARANHÃO SOBRINHO

 
 
 
TELA DO NORTE
No estirão, percutindo os chifres, a boiada
monótona desliza; ondulando, a poeira,
em fulvas espirais, cobre toda a chapada
em cujos poentes o sol põe uns tons de fogueira.
Baba de sede e muge a leva; triturada
sob as patas dos bois a relva toda cheira!
Boiando, corta o ar a mórbida toada
do guia que, de pé, palmilha à cabeceira...
Nos flancos da boiada, aos recurvos galões
as éguas, vão tocando a reses fugitivas
o vaqueiros, com o sol nas pontas dos ferrões...
E, do gado o tropel, com as asas derreadas
quase riscando o chão, que o sol calcina, esquivas,
arrancam coleando as emas assustadas...
 
IN: Rogel Samuel. Literatura básica. Editora Vozes.

ELA OBSERVA O FIM DO MUNDO