quinta-feira, 29 de março de 2012

POEMA DO MILLOR



Poeminha Última Vontade

Enterrem meu corpo em qualquer lugar.

Que não seja, porém, um cemitério.

De preferência, mata;

Na Gávea, na Tijuca, em Jacarepaguá.

Na tumba, em letras fundas,

Que o tempo não destrua,

Meu nome gravado claramente.

De modo que, um dia,

Um casal desgarrado

Em busca de sossego

Ou de saciedade solitária,

Me descubra entre folhas,

Detritos vegetais,

Cheiros de bichos mortos

(Como eu).

E, como uma longa árvore desgalhada

Levantou um pouco a laje do meu túmulo

Com a raiz poderosa,

Haja a vaga impressão

De que não estou na morada.

Não sairei, prometo.

Estarei fenecendo normalmente

Em meu canteiro final.

E o casal repetirá meu nome,

Sem saber quem eu fui,

E se irá embora,

Preso à angústia infinita

Do ser e do não ser.

Sol e chuva ocasionais,

Estes sim, imortais.

Até que um dia, de mim caia a semente

De onde há de brotar a flor

Que eu peço que se chame

Papáverum Millôr

 

(ENVIADO POR AMELIA PAIS)

5 comentários:

Luiz Filho de Oliveira disse...

No meu caminho pela Literatura foi, primeiro, Rubem Braga aquele que me-sensibilizou com suas crônicas e poemas, lidos em um caderno dominical de um jornal daqui do Piauí; mas, escuro (claro!), foi Millôr, pelas páginas de revista nacional, quem me-ensinou exemplos de irreverência tanto no conteúdo, quanto tonta a gramática, de tanto apanhar do Guru do Méier. Definitivo, Millôr é assim.

José Ribamar Mitoso de Souza disse...

Rogel, sei lá o que dizer...

José Ribamar Mitoso de Souza disse...

Rogel, sei lá o que dizer...

Unknown disse...

Bela escolha, Rogel.

Esse era o Millor. O humor sempre presente.

Beijos

Mirze

ROGEL DE SOUZA SAMUEL disse...

obrigado, amigos