terça-feira, 29 de novembro de 2011

CRISE É IMPREVISÍVEL

 


Crise é imprevisível, avaliam economistas em seminário no RJ


“O neoliberalismo não está morto, está com o olho muito aberto, mas entra em crise agora na Europa. O que eles estão fazendo em termos de ajustes recessivos é um completo disparate, no qual a Alemanha tem muita culpa. A Alemanha ainda vai pagar caro essa brincadeira. Se o euro estourar, será na cara deles também”, advertiu Maria da Conceição Tavares em seminário que reuniu nomes do pensamento econômico progressista brasileiro para analisar a crise do capitalismo mundial.
Rio de Janeiro – Alguns dos principais nomes do pensamento econômico progressista brasileiro se encontraram na segunda-feira (28) no Rio de Janeiro para analisar a crise do capitalismo mundial e seus reflexos nos países ricos, além das prováveis conseqüências do atual contexto econômico global sobre o Brasil. O debate ocorreu no mesmo dia em que a Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) anunciou a redução de suas projeções para a economia global e confirmou a formação de um aparentemente inevitável quadro de recessão para os Estados Unidos e a Europa.

O seminário “A Crise do Capitalismo e o Desenvolvimento do Brasil” foi organizado conjuntamente pelos quatro maiores partidos de esquerda do país, por intermédio das fundações Perseu Abramo (PT), João Mangabeira (PSB), Maurício Grabois (PCdoB) e Leonel Brizola/Alberto Pasqualini (PDT). Os debates reuniram, além de economistas, diversos parlamentares, empresários, sindicalistas e dirigentes partidários de todo o país.

A primeira mesa de debates reuniu nomes do peso de Maria da Conceição Tavares, Carlos Lessa, Luiz Carlos Bresser Pereira e Theotônio dos Santos na análise da crise financeira que atinge o centro da economia global e hoje se manifesta mais fortemente na União Européia, onde a adoção do euro como moeda comum já é posta em xeque.

“O neoliberalismo não está morto, está com o olho muito aberto, mas entra em crise agora na Europa. O neoliberalismo na década de 90 e começo desse século era favorável ao crescimento do G7, mas agora é dramaticamente regressivo, em particular na União Européia. O que eles estão fazendo em termos de ajustes recessivos é um completo disparate, no qual a Alemanha tem muita culpa. A Alemanha ainda vai pagar caro essa brincadeira. Se o euro estourar, será na cara deles também”, disse Maria da Conceição Tavares.

Conceição não vê solução para a insegurança econômica global nos próximos anos: “A crise européia deve prolongar a instabilidade financeira, com uma ameaça de estagnação com deflação. Os preços industriais estão caindo e talvez caiam também os preços das commodities, o que não será legal para o Brasil”.

Segundo a economista, hoje na Europa a grande discussão é manter ou não o euro: “A esquerda quer manter, mas a direita nacionalista não quer, pois prefere voltar às moedas nacionais para permitir a desvalorização da dívida em moeda nacional. Se acontecer, o que isso irá gerar de desvalorização competitiva restabelecerá na Europa o clima da década de 20, quando foi rompido o padrão ouro. É uma coisa muito problemática”, avaliou.

Dupla natureza
Segundo Bresser Pereira, a crise do euro tem dupla natureza: “De um lado, é uma crise fiscal de Estados que estavam razoavelmente equilibrados do ponto de vista fiscal até 2008. Um exemplo é a dívida pública da Irlanda, que era de 25% do PIB em 2007. Aí, veio a quebra dos bancos irlandeses, o governo socorreu e a dívida pública da Irlanda, no fim de 2010, era de 99% do PIB. A dívida pública surgiu da quebra dos bancos, fundamentalmente. Os Estados do Sul da Europa se endividaram para socorrer seus bancos e aí os mercados financeiros perderam a confiança nesses países e na sua capacidade de pagamento. Então, a taxa de juros está aumentando. Isso já aconteceu com a Irlanda, depois com a Grécia, e agora está acontecendo com Itália”.

A outra natureza da crise européia, segundo Bresser, é cambial: “Os países em crise aguda tiveram déficits públicos pequenos, mas grandes déficits em conta corrente, o que se explica em parte também pelo consumo irresponsável feito internamente. A taxa de câmbio implícita desses países, definida pela relação salário-produtividade, se apreciou, e eles, então, entraram em um déficit de conta corrente muito grande em relação à Alemanha. Isso implica em endividamento para empresas, famílias e bancos, e torna a situação insustentável para esses países”.

Segundo o economista, o que ocorre na União Européia é uma crise de soberania monetária: “Ou você tem autonomia e decide sobre sua vida ou fica na mão dos outros. Não há soberania possível se você não tem uma moeda nacional. Os países da zona do euro, quando fizeram o acordo, aceitaram trocar suas moedas nacionais por uma moeda estrangeira, o euro. A moeda nacional tem duas características muito importantes, que só se percebe em tempos de crise: você pode emitir e pode desvalorizar. A Grécia não pôde fazer isso, a Espanha e a Itália não poderão fazer isso...”.

Para Bresser, a solução para o problema da dívida pública começaria com uma medida: “O banco central europeu deveria funcionar como o banco nacional desses países. Ou seja, emitir dinheiro para comprar os títulos que estão a juros altíssimos, e com isso baixar a taxa de juros e reequilibrar o sistema”. Em relação ao déficit em conta corrente, a solução racional, segundo o economista, seria cada país poder desvalorizar sua moeda: “Com isso, você baixa o salário, mas de uma forma menos dolorosa, não baixa via desemprego. A decisão de países como Espanha ou Itália de continuar no euro é complicada. Não sou capaz de dizer o que vai acontecer”.

A dificuldade em se fazer previsões sobre os desdobramentos da crise também foi citada por Carlos Lessa: “Essa crise apresenta uma grande opacidade em relação ao seu desdobramento. Esperamos _ vamos bater na madeira _ que a solução não se dê em termos de conflito mundial. Ninguém poderá dizer com razoável precisão como será o mundo daqui a dez anos. Porém, é possível dizer que será muito diferente do atual”.

G2
Essa diferença, segundo Lessa, será fundamentalmente geopolítica e terá EUA e China como atores principais, no que ele chama ironicamente de G2: “Quero crer que o império continua império. O orçamento militar norte-americano supera o somatório dos nove orçamentos militares que lhe sucedem e este ano foi aprovado nos EUA o maior orçamento militar de todos os tempos. Culturalmente, as pautas americanas já são absolutamente universalizadas. Acho que não tem G7 nem G 20. O que tem é G2, que é o matrimônio de um país chamado EUA, que é o império, e uma periferia chamada China”, disse Lessa, comparando o papel atual da China às “maquilas” mexicanas, que serviam de montadoras para produtos que depois retornavam aos EUA.

Theotônio dos Santos disse entender a natureza da atual crise européia como sendo secular: “Há um caráter cíclico na economia mundial, a crise não é novidade absoluta”, afirmou, antes de apresentar alguns números: “Entre 1900 e 1913, o PIB per capta cresceu cerca de 1,5%. Depois, de 14 a 38, período em que ocorreu a crise de 1929, o PIB cresceu apenas 0,8%. Entre 38 a 73, no chamado período de ouro do capitalismo, o PIB voltou a crescer cerca de 2,3%. Depois, de 74 a 93, o crescimento foi de 1,2%, em um período tipicamente de descenso de longo prazo. De 1994 para cá, o crescimento tem sido em torno de 2,3% apesar de duas crises fortes em 2000 e 2008. Há uma tendência a oscilar a taxa de crescimento da economia mundial”.

domingo, 27 de novembro de 2011

MEMÓRIAS DE HUMBERTO DE CAMPOS

XXVII
NOSSA CASINHA

HUMBERTO DE CAMPOS - "MEMÓRIAS"


EM Une vie, de Maupassant, Jeanne, condessa de Lamare, perdidos o pai, a mãe e o esposo, e abandonada pelo filho, entrega-se a um bizarro exercício de memória. Toma os calendários, as folhinhas relativas aos últimos vinte anos da sua vida, e põe-se a restaurar dia a dia todos os acontecimentos daquele período feliz ou tormentoso. Econsegue, dessa maneira, povoar de fatos, e de figuras, todas as horas que, antes dessa ressurreição pela saudade, lhe pareciam tristes e vazias.
No esforço, que agora faço, para realização do mesmo milagre, não deixa de ser curioso que eu, que me recordo de tanto fato insignificante, de tanto episódio miúdo, não tenha lembrança, embora a mais leve, do dia em que nos mudamos para a casa que minha mãe mandou construir em Parnaíba, à Rua do Pará, ao lado daquela em que nos instalamos em 1894. Ao reconstituir esse período e esses acontecimentos, já me vejo residindo aí. Duas ou três ocorrências ligeiras, dois ou três quadros no meio de outros que se apagaram, eis o que me resta. À memória faltam recordações para encher a moldura dos dias.
A casa obedece, mais ou menos, à disposição da que lhe fica ao lado, e em que havíamos residido. Três altas janelas de frente, e, à esquerda de quem a examina da rua, uma grande porta, por onde se entra para um alpendre largo e todo fechado de rótulas. Para esse alpendre, dá a porta da sala de visitas, a que correspondem as três janelas da rua. Atrás da sala, e comunicando-se com ela por duas portas, um grande quarto destinado às minhas tias e à minha irmã mais velha. Esse quarto possui, ainda, uma porta lateral para o alpendre de que se faz a sala de jantar, e outra, mais, para o quarto de minha mãe, que se comunica, por sua vez, com a sala de jantar. Na “puxada”, um quarto grande, que é a despensa, dando para um corredor aberto. Em seguida, a cozinha, com fogão e forno de barro, para lenha. Atrás da casa, o banheiro, e um quarto pequeno, que eu transformei em pombal, mas foi reduzido, depois que os gatos e as mucuras me comeram os pombos, em... restaurant de Ezequiel. Próximo ao banheiro, um poço de tijolo, de uma dezena de metros de profundidade. Ao lado da casa, à esquerda de quem entra, um largo pedaço de quintal arenoso, em que fizemos o jardim. E em seguimento, para os fundos, o quintal de sessenta ou setenta metros, todo cercado de troncos de carnaúba rachada ao meio.
À chegada do primeiro inverno cuidou minha mãe de encher de plantas o seu pequeno retiro. Comprando uma dúzia de cocos com casca, foram estes cortados no lado superior para facilitar a germinação. Abertas as covas, fundas de mais de meio metro, punha-se dentro de cada uma um coco e, sobre este, um punhado de sal.
– Para que serve o sal, em cima do coco? – indago.
– É por causa dos besouros – explica-me o caboclo que nos ajuda na plantação. – Osal afugenta o besouro, quando ele entra na terra para roer o coco.
Não obstante essas precauções, apenas cinco ou seis coqueiros nas­ceram. Mas outros cocos foram plantados, e vingaram. Evingaram as la­ranjeiras, os limoeiros, as ateiras, os mamoeiros. Um muricizeiro estendeu os galhos junto ao alpendre, em frente ao corredor da despensa, dando agasalho às galinhas. Um jasmineiro miúdo derramou-se no jardim, estre­lando a areia. Um casa-cedo rebentou em cálices amarelos. Um resedá modesto perfuma a brisa. Eas roseiras lutaram para viver. Eu próprio puxava a água do poço profundo, em um balde de zinco, auxiliado por um carretel estridente. Eminha mãe, e minhas irmãs, na alegria humilde de possuírem o seu teto, davam de beber às plantas amigas. Nessa casinha, com intervalo apenas de alguns meses, passei a minha meninice, dos nove aos treze anos, e, mais tarde, a adolescência, dos quinze aos dezesseis. Do seu quintal subiram os meus papagaios de papel. Entre as suas moitas rasteiras armei as minhas arapucas cheirando a mato verde. Nas suas cercas irregulares pendurei os meus alçapões traiçoeiros. Aí escrevi o meu primeiro conto e me nasceu a primeira ambição literária. Testemunha quieta dos meus de­sastres iniciais, das lágrimas da minha mãe e do milagre da nossa pobreza corajosa, foi à sua sombra que decorreram as nossas noites de vigília e os nossos dias de esperança.
Nessa casa humilde e clara teve o navio da minha alma o seu estalei­ro... Desse porto abrigado partiu três vezes o meu barco atrevido e frágil para afrontar as iras do oceano trovejante. Da primeira, voltei desiludido, apavorado com a tormenta que rugia lá fora. Da segunda, regressei, as velas rotas, o leme partido, para reparar os estragos da tempestade, mas com o pensamento de fazer-me ao largo, outra vez. Da terceira, enfim, apanhado pelos ventos oceânicos e pelo capricho das correntes marítimas, fui arrastado para tão longe que, decerto, nunca mais voltarei...
E para quê? Para que voltar se se não balançam mais na mesma enseada os barcos amigos que dançavam ao sol nas mesmas águas? Voltar para quê, se minha irmã já não existe, se não existem o tio e uma das tias que moravam conosco, se o coração de minha mãe esmorece coberto de luto, se tudo, em suma, seria, aí, para mim, fonte de saudades, ninho de tristezas, e amargo motivo para evocações dolorosas?
Envelhece, pois, sem que me vejas mais, casa que eu vi nascer, em cujas paredes eu próprio marcava, com um traço de carvão na argila clara, os progressos do meu crescimento. Um dia ruirás, e serás poeira. Um dia eu morrerei, e minha carne se transformará em pó. E as minhas cinzas se reunirão às tuas, e dormirão juntas, consoladas, no seio materno e silen­cioso da terra...


sobolos rios que vão


sobolos rios que vão

rogel samuel

sobolos rios que vão
por Babilônia, me achei
onde sentado chorei
com Camões esta canção,
as lembranças de tudo
por quanto no rio passei
o rio negro negro
corrente que de meus olhos
foi manado, e que somente
meu deu lembranças
que nalma se representaram
e se fizeram tão presentes
como se nunca fossem tidas
com o rosto banhado em lágrimas
via minha tia Luzia
e seus cuidados imaginados
e o meu tio Alberto
na sua mesa de trabalho
sorrindo para o seu lado.
Vi que tudo que passei
que todo o bem passado
não era gosto, mas é mágoa.

mas quando feliz estou contigo
me esqueço do passado
nada existe, já passou
e logo me recomponho
pois o tempo imaginado
o tempo recuperado
já é outro, já não existe
como o rastro de uma nave
no ar do mais largo oceano

ah, tempo passado, tempo morto
tempo árido! contigo não
estarei nem mesmo nas lembranças!
o quadro se apaga e os momentos
são sonhos projetados na vidraça!


O FADO FOI PROCLAMADO HOJE PATRIMÔNIO DA HUMANIDADE



O fado é Património Imaterial da Humanidade segundo decisão hoje tomada durante o VI Comité Intergovernamental da Organização da ONU para a Educação, Ciência e Cultura - UNESCO).
O antigo presidente da Câmara de Lisboa Pedro Santana Lopes lançou a ideia de candidatar o fado a Património Imaterial da Humanidade e escolheu os fadistas Mariza e Carlos do Carmo para embaixadores da candidatura.
A candidatura foi aprovada por unanimidade pela Câmara de Municipal de Lisboa no dia 2 de maio de 2010 e apresentada publicamente na assembleia Municipal, no dia 1 de junho, tendo sido aclamada por todas as bancadas partidárias.
No dia 28 de junho de 2010, foi apresentada ao Presidente da República, Aníbal Cavaco Silva, e formalizada junto da Comissão Nacional da NESCO. Em agosto desse ano, deu entrada na sede da organização, em Paris.
A candidatura portuguesa foi considerada como exemplar pelos peritos da UNESCO, tal como o Paraguai e Espanha.


Ler mais: http://aeiou.expresso.pt/fado-e-patrimonio-imaterial-da-humanidade-video=f690692#ixzz1evbR65a7

sábado, 26 de novembro de 2011

Nós, os quase extintos

Nós , os quase extintos

(Na foto: Coelho Neto)

Rogel Samuel

Nós, escritores independentes, somos seres quase extintos na face da terra.
Nossa sobrevivência hoje se deve aos blogs e sites.
Somos todos nós, poetas, cronistas, romancistas, homens de letras, que fazemos da literatura nossa razão de ser, uma centena de milhares de seres, esquecidos da media, cuja produção continua firme, mas que raramente recebemos dos leitores a capacidade de “viver da pena”  como se dizia antigamente.
Poucos conseguem viver do que escrevem no Brasil, como Coelho Neto, Humberto de Campos que sobreviveram do que escreviam. Até Machado era funcionário público.
Creio que hoje somente poucos, como Márcio Souza, vivem de direitos autorais.
Uma solução curiosa e inteligente foi a alemã. Pelo menos era assim na década de 90: as bibliotecas públicas cobravam uma pequena taxa de uso para o fundo de aposentadoria do escritor alemão, e as livrarias eram “obrigadas” a colocar os autores alemães na frente dos demais. Na vitrine.
 No Canadá as livrarias emplacavam assim cada livro nacional: “ESTE É ORGULHOSAMENTE UM AUTOR CANADENSE”.
Por que hoje estou neste estado deprimente?
- Ontem eu entrei na Livraria Saraiva no Shopping Rio Sul e vi que os autores nacionais sumiram de cena.  Só nas estantes laterais, marginais. Nenhum programa da tarde de domingo da TV homenageia um poeta, um cronista nacional.
Seremos seres em extinção?


sexta-feira, 25 de novembro de 2011

AS PULSEIRAS - HUMBERTO DE CAMPOS

AS PULSEIRAS - HUMBERTO DE CAMPOS
Graciosamente morena, com uns grandes olhos negros, cabelo ondeado, corpo flexível, e um andar de cobra no descampado, mme. Batista Belo era, sem contestação admissível, uma das figuras mais acentuadamente chics da cidade. Os seus vestidos não eram ricos, nem eram caros os seus chapéus; era, porém, tão definido o cunho da sua elegância, que, nas, festas, nos teatros, nos passeios, era ela quem se revelava a rainha, a dominadora, a vitoriosa, no meio de outras mais opulentamente trajadas.
Conhecedor da pérola que possuía, o marido vigiava-a de perto, cumulando-a de mimos, - de colares, de brincos, e, principalmente, de pulseiras, de que ela possuía, já, a mais soberba variedade. Eram pulseiras de platina, com brilhantes; de ouro, com safiras; de prata, com pérolas foscas; e eram, sobretudo, de metal mais ou menos liso, em número de vinte ou trinta, que tilintavam ao menor movimento, dando à linda senhora, quando ela passava na Avenida, um galhardo aspecto de burra-madrinha. À tarde, ao saírem, o dr. Belo não deixava de recomendar:
- Lulu, as pulseiras? Já as puseste todas?
Um dia, intrigada com essa exigência galante o marido, madame não pode mais, e interpelou-o:
- Augusto, por que exiges que eu use tanta pulseira, quando saio? Isto já está, até, se tornando ridículo...
E insistindo:
- Por que é; hein?
- Por que é? - gracejou o desgraçado, relutando.
E num acesso de coragem:
- É para saber, no cinema, onde é que você anda com a mão!

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

GUIMARÃES ROSA


- NONADA. TIROS QUE O SENHOR ouviu foram de briga de homem não; Deus esteja. Alvejei mira em árvores no quintal, no baixo do córrego. Por meu acerto. Todo dia isso faço, gosto; desde mal em minha mocidade. Daí, vieram me chamar. Causa dum bezerro: um bezerro branco, erroso, os olhos de nem ser - se viu -; e com máscara de cachorro. Me disseram; eu não quis avistar. Mesmo que, por defeito como nasceu, arrebitado de bei­ços, esse figurava rindo feito pessoa. Cara de gente, cara de cão: determina­ram - era o demo. Povo prascóvio. Mataram. Dono dele nem sei quem for. Vieram emprestar minhas armas, cedi. Não tenho abusões. O senhor ri certas risadas... Olhe: quando é tiro de verdade, primeiro a cachorrada pe­ga a latir, instantaneamente - depois; então, se vai ver se deu mortos. O senhor tolere, isto é o sertão. Uns querem que não seja: que situado ser­tão é por os campos-gerais a fora a dentro, eles dizem, fim de rumo, terras altas, demais do Urucuia. Toleima. Para os de Corinto e do Curvelo, então, o aqui não é dito sertão? Ah, que tem maior! Lugar sertão se divulga: é onde os pastos carecem de fechos; onde um pode torar dez, quinze léguas, sem topar com casa de morador; e onde criminoso vive seu cristo-jesus, arredado do arrocho de autoridade. O Urucuia vem dos montões oestes. Mas, hoje, que na beira dele, tudo dá - fazendões de fazendas, almargem de vargens de bom render, as vazantes; culturas que vão de mata em mata, madeiras de grossura, até ainda virgens dessas lá há. O gerais corre em volta. Esses gerais são sem tamanho. Enfim, cada um o que quer aprova, o senhor sabe: pão ou pães, é questão de opiniães... O sertão está em toda a parte.
Do demo? Não gloso. Senhor pergunte aos moradores. Em falso receio, desfaIam no nome dele - dizem só: o Que-Diga. Vote! não... Quem muito se evita, se convive. Sentença num Aristides - o qne existe no buritizal primeiro desta minha mão direita, chamado a Vereda-da-Vaca-Mansa-de ­Santa-Rita - todo o mundo crê: ele não pode passar em três lugares, de­signados: porque então a gente escuta um chorinho, atrás, e uma vozinha que avisando: - "Eu já vou! Eu já vou!..." -que é o capiroto, o que-diga... E um Jisé Simpilício - quem qualquer daqui jura ele tem um capeta em casa, miúdo satanazim, preso obrigado a ajudar em toda ganância que exe­cuta; razão que o Simpilicio se empresa em vias de completar de rico. Apre, por isso dizem também que a besta pra ele rupeia, nega de banda, não dei­ (...)
 

João Guimarães Rosa, Grande Sertão: Veredas, 1ªpágina

KATE MOSS

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Na rua Quintino Cunha

Na rua Quintino Cunha

Rogel Samuel

Passei hoje pela Rua Quintino Cunha, e me lembrei do livro excelente de Leonardo Mota “Cabeças chatas” que tem um capítulo sobre o poeta. Foi-me enviado por um pesquisador da obra do poeta de “Pelo Solimões”, Jorge Brito, do Ceará.
Quintino da Cunha (Itapajé, 24 de julho de 1875 - Fortaleza, 1 de junho de 1943) foi advogado, escritor e poeta cearense. Bacharelou-se pela Faculdade de Direito do Ceará em 1909, onde começou a exercer a profissão de advogado criminalista. Foi deputado estadual entre 1913 e 1914. Ficou famoso por seu estilo irreverente e anedotas que contava.
Quintino Cunha morou em Manaus, onde conseguiu até algum dinheiro.

O cearense é como passarinho
Tem de voar, para fazer o ninho...

Com o dinheiro ali ganho – era a época de ouro da borracha – escreveu um livro de versos e foi editá-lo na Europa.
Do Amazonas tirou as belas imagens do  “Encontro das águas”, dos rios Negro e Solimões :

Se esses dois rios fôssemos, Maria,
Todas as vezes que nos encontramos,
Que Amazonas de amor não sairia
De mim, de ti, de nós que nos amamos!

Foram esses versos que tive vontade de recitar ali da Rua Quintino Cunha, bem alto.
Se não o fiz foi porque ali em frente estava a Delegacia.
Ali naquela esquina morava um grande amigo meu já há muito falecido, o Ítalo, meu colega de faculdade. Ia ser assistente do Celso Cunha. Ítalo era um sábio. Alto, mulato, meio cego, tocava piano e sabia de tudo. Um dia me deu uma aula sobre a “Paixão segundo São Mateus”,  de Bach.

Tempos felizes, aqueles.
Fiquei feliz em ver que o meu antigo amigo morava na esquina da poética rua Quintino Cunha.

National Geographic divulga fotos







SINATRA TERIA FEITO FILME PORNÔ

Muitos artistas hoje vistos como grandes estrelas começaram suas carreiras no submundo dos filmes pornográficos, atividade de enorme lucratividade atualmente na milionária indústria norte-americana.
E parece que, segundo o escritor Darwin Porter, uma das maiores vozes do século XX teria se envolvido na atividade quando jovem: Frank Sinatra, morto em 1998 aos 82 anos de idade. As informações são do tabloide britânico Daily Mail.
Frank Sinatra teria feito pornô quando jovem
Frank Sinatra teria feito pornô quando jovem
Segundo Porter, que assina uma nova biografia de "Blue Eyes", Frank Sinatra: The Boudoir Singer, o cantor estava tão quebrado financeiramente em 1934, quando tinha 19 anos, que acabou participando do filme de sexo explícito The Masket Bandit - para o qual teria recebido cerca de US$ 100.
O escritor ainda afirmou que Sinatra teria feito seu amigo Sammy Davis Jr. apagar sua cópia da fita, e, em outra ocasião, ficado furioso com o fato de o ator britânico Peter Lawford ter exibido o filme a seus amigos e conhecidos. Sinatra ainda teria impedido o uso de cenas do trabalho em um documentário que abordaria histórias de atores envolvidos com a pornografia antes do estrelato.

domingo, 20 de novembro de 2011

Fran Paxeco segundo Humberto de Campos

Fran Paxeco segundo Humberto de Campos

Rogel Samuel


Manuel Fran Paxeco (nascido Manuel Francisco Pacheco),  mais conhecido como Fran Paxeco (Setúbal, 9 de Março de 1874Lisboa, 17 de Setembro de 1952) foi um jornalista, escritor e diplomata português.
Era muito famoso quando eu era menino.

Conta Humberto de Campos, nas suas “Memórias inacabadas”, que:
“Fran Paxeco, escritor português, discípulo e devoto de Teófilo Braga, chegara ao Maranhão, procedente de Manaus, onde o seu temperamen­to combativo lhe havia criado grandes e aborrecidas incompatibilidades. Idólatra do seu mestre, saíra a defendê-lo de Sílvio Romero, que o acusara de gravíssima desonestidade literária. João Barreto de Menezes, filho de Tobias Barreto, surgiu em defesa de Sílvio. Fran Paxeco volta à imprensa, investindo contra Tobias. E o resultado foi um pugilato em uma das praças públicas da capital amazonense, a partida de Fran Paxeco para o Sul, e a perfídia de João Barreto de Menezes, que, segundo se tornou corrente em todo o Norte, fazendo uma alusão espirituosa à transformação do nome de Francisco Pacheco em Fran Paxeco, mandou gravar no castão da sua bengala a seguinte legenda comemorativa: “Esta bengala, no dia tanto de tal, tirou, em Manaus, o cisco das costas de um galego insolente.”
“Aportando ao Maranhão, Fran Paxeco viveu aí como na sua terra. São Luís era, aliás, por esse tempo, uma cidade portuguesa, e em que dominava, ainda, o reinol. O diretor de uma das folhas mais vibrantes da cidade era o português Manuel de Bittencourt. À frente do diário que defendia o Governo estadual, estava o português Carvalho Branco, a que o Partido oficial, reconhecido pelos serviços relevantíssimos que ele lhe prestara nos trabalhos de alistamento eleitoral, havia dado, numa recompensa expressiva, o privilégio para fabricar caixões de defunto. O comércio era, quase todo, português. De modo que, estabelecendo-se na capital maranhense, Fran Paxeco se sentia tão à vontade como se tivesse desembarcado no Porto ou em Lisboa. As vantagens que ele trazia, com a sua vivacidade e com o seu entusiasmo, justificavam, aliás, a cordialidade do acolhimento. Habituado a olhar o português como gente de casa, a mocidade maranhense, que saía do Liceu, e se iniciava nos cursos superiores fora do Estado, saudou Fran Paxeco à chegada, e proclamou-o um dos seus guias e mestres. E o hóspede se identificou de tal maneira com ela, que olvidou a sua condição de estrangeiro, e passou a participar da atividade social da terra generosa com uma solicitude bárbara, mas que era, em tudo, de uma sinceridade intensa e profunda. Miúdo e barbado, era, todo ele, nervos e cérebro. Mais tarde, tirou as barbas. Mas conservou inalteráveis o temperamento, o espírito e o coração, até o dia em que Portugal o removeu para Cardiff, como vice-cônsul, isto é, em um posto equivalente ao que o Brasil dera, ali, anos antes, a Aluísio Azevedo”.

Hoje, existe uma rua com seu nome em São Luís, no Maranhão.

SOPHIA LOREN DIZ QUE SEXO TODOS OS DIAS A MANTÉM BELA



Sophia Loren diz que sexo todos os dias a mantém bela



A atriz Sophia Loren, de 77 anos, disse que fazer amor diariamente a ajuda a se manter bela. A declaração foi dada ao lado do ator francês Alain Delon, em uma entrevista concedida no balneário mexicano de Acapulco, onde os dois participaram do Festival Internacional de Cinema, informou neste sábado (19) o jornal La Jornada.

- Realmente para mim foi um drama me manter bela, mas faço amor todos os dias, creio que isso ajuda.

O famoso ator francês afirmou que a idade não representa impedimento algum para seu trabalho.

- Eu atuo com quem quero e na hora que quero.


Delon considerou que o cinema deixou de ser "uma fábrica de sonhos". Antes "ia ao cinema para sonhar, agora vamos para nos identificar com os atores. Antes íamos ver pessoas que nos faziam sonhar". Os dois atores receberam o prêmio Acorde de Acapulco por sua carreira.

Localizada no Pacífico, Acapulco foi um dos balneários das grandes personalidades na década de 1960. A cidade tenta recuperar seu brilho, apesar da violência desencadeada pelos cartéis do narcotráfico nos últimos dois anos.

 

sábado, 19 de novembro de 2011

HORÁCIO

HORÁCIO

 

Ode III

 

AO NAVIO DE VERGÍLIO

 
Trad. Elpino Duriense, Lisboa, 1807.
 
Assim a deusa poderosa em Chipre,
Assim os irmãos de Helena, brilhantes
Astros, e o rei dos ventos, só com japis,
prendendo os mais, te reja,

Ó nau, que és de Vergílio devedora,
Que a ti se confiou, rogo-te, o ponhas,
Salvo nas terras áticas, e guardes
metade de minha alma.

Enzinho e tresdobrado bronze havia
Em torno ao peito, quem ao pego iroso
O baixel frágil cometeu primeiro;
Nem já temeu o ábrego.

Com os aquilões brigando impetuoso,
Hiadas tristes, nem de Noto a raiva;
Que é da Ádria o mór senhor, ou erguer queira,
Ou amainar as ondas.

Que gênero temeu de morte aquele,
Que a olhos secos viu nadantes monstros,
Que viu túrgido mar, e Acroceraunos
infamados cachopos?

Em vão próvido Deus com o oceano
As terras retalhou insociáveis,
Se contudo os baixéis ímpios trespassam
os não tocandos mares.

Audaz a sofrer tudo, a gente humana
Por defezas maldades se despenha;
Audaz a prole de japeto às gentes
com fraude iníqua o fogo.

Trouxe: depois que o fogo à casa etérea
Se furtou, a magreza e nova tropa
De febre sobreveio à terra, e o fado
vagaroso da morte.

Dantes remota, apressurou o passo
Tentou com penas ao mortal não dadas,
Dédalo o ar vazio: o Aqueronte
rompeu trabalho hercúleo.

Nada aos mortais é árduo: cometemos
Loucos o mesmo Céu; e não deixamos
Com os nossos crimes, que deponha Jove
Os iracundos raios.

[HORÁCIO. Obras completas. São Paulo, Cultura, 1941. p. 24-25.]

terça-feira, 15 de novembro de 2011

MUDANÇA CLIMÁTICA


Foto: Nasa
O rio Nilo e seu delta aparecem como um brilhante caule de flor na imagem tirada à noite


Mudança climática ameaça rios Nilo, Limpopo e Volta, na África

Segundo especialistas, época das estações chuvosas pode mudar, ameaçando a agricultura
Reuters

A mudança climática deve elevar o regime de chuvas em grandes bacias fluviais do mundo, mas os padrões meteorológicos tendem a se tornar mais instáveis, e a época das estações chuvosas pode mudar, ameaçando a agricultura, disseram especialistas nesta segunda-feira.

 

Além do mais, algumas bacias fluviais da África - a do Limpopo, no sul do continente, do Nilo, no norte, e do Volta, no oeste - ficarão propensas a receber menos chuvas do que atualmente, o que afetará a produção de alimentos e provocará tensões internacionais.
A perspectiva é particularmente ruim na bacia do Limpopo, que abrange partes de Botsuana, África do Sul, Zimbábue e Moçambique, numa área habitada por 14 milhões.

"Em algumas partes do Limpopo, nem mesmo a adoção disseminada de inovações como a irrigação por gotejamento pode ser suficiente para contrabalançar os esforços negativos da mudança climática sobre a disponibilidade hídrica", disse Simon Cook, do Centro Internacional de Agricultura Tropical.
As preocupações para o Alto Nilo Azul, que passa por Etiópia, Sudão e Egito, resultam principalmente da evaporação intensa que deveria advir do aumento previsto de 2ºC a 5ºC nas temperaturas médias globais. Cientistas do Programa Desafio para Água e Comida (PDAC), uma entidade mundial de pesquisas agrícolas, disseram que isso pode causa atritos entre o Egito e a Etiópia.
A pesquisa sobre dez grandes bacias fluviais do mundo, incluindo grandes áreas da América do Sul e Ásia, foi divulgada a poucos dias de uma conferência climática global importante a ser realizada em Durban, na África do Sul.
Leia também: Saiba mais sobre a COP 17 - Durban
Em geral, o relatório concluiu que o aumento da evaporação, em consequência do maior calor, será compensado pela intensificação das chuvas. Ligeiras alterações nas épocas de chuvas e estiagem, mantidas intactas nos últimos séculos, "criarão um pesadelo gerencial e exigirão um foco muito maior do que era historicamente necessário em abordagens adaptativas e projeções climáticas de longo prazo", disse Alain Vidal, diretor do PDAC.
"A mitigação de inundações e as estratégicas de gestão serão cruciais em áreas com clima cada vez mais errático e com mais enxurradas, como o Limpopo e o Volta."


segunda-feira, 14 de novembro de 2011

A ROCINHA NO NY TIMES

SUCURI DE 3 METROS

SUCURI APARECE NA RUA ARTUR NETO EM MANAUS HOJE

SOBRE O CEMITÉRIO MARINHO


«O CEMITÉRIO MARINHO» DE VALÉRY









                        Que a última estrofe de «O cemitério marinho» de Paul Valéry assim canta:



«Ergue-se o vento! Há que tentar viver!

O sopro imenso abre e fecha meu livro,

A vaga em pó saltar ousa das rochas!

Voai páginas claras, deslumbradas!

Rompei vagas, rompei contentes o 

Teto tranqüilo, onde bicavam velas! »



                        Uso a extraordinária tradução de Darcy Damasceno e Roberto Alvim Correia.



                        O poema enorme,  difícil.

                        Desde que o li, pela primeira vez, há mais de quarenta anos, tento penetrar no mar de seu sentido. Às vezes, parece entender-se. Outras vezes, inatravessável é o seu mar. Mas sempre o sinto, o que importa. O que importa é sentir um poema. Não «interpretá-lo». Os intelectuais matam o poema, intelectualizam-no. Por isso Barthes foi tão bom crítico. Barthes fazia o texto falar, deixava-o falar-se.

                       

«Esse teto tranqüilo, onde andam pombas,

Palpita entre pinheiros, entre túmulos.

O meio-dia justo nele incende

O mar, o mar recomeçando sempre.

Oh, recompensa, após um pensamento,

um longo olhar sobre a calma dos deuses! »



                        Seja como for, Valéry nos abre à imaginação o grande oceano da morte. Mas «recomeçando sempre». Sempre, «sobre a calma dos deuses».

                        Sei que não é algo para ser lido no Natal, mas que tema mais religioso do que a morte neste túmulo do oceano de «tanto diamante de indistinta espuma  », onde «quanta paz parece conceber-se!».



«Quando repousa sobre o abismo um sol, 

Límpidas obras de uma eterna causa

Fulge o Tempo e o Sonho é sabedoria. »





                        O poema tem ímpetos de infinito, abre-se para a eternidade, «massa de calma e nítida reserva»:

«Água franzida, Olho que em ti escondes 

Tanto de sono sob um véu de chama,

-Ó meu silêncio!... Um edifício na alma,

Cume dourado de mil, telhas, Teto!»

 





  Valery disse em Dissertation sur " Le cimetière marin" :

 “Le ‘Cimetière marin’ serait donc le type de ma ‘poésie’ vraie et surtout les parties plus abstraites de ce poème.  C’est une espèce de ‘lyrisme’ (mi capisco) net et abstrait mais d’une abstraction motrice plus que philosophique.”


Templo do Templo, que um suspiro exprime,

Subo a este ponto puro e me acostumo,

Todo envolto por meu olhar marinho.

E como aos deuses dádiva suprema,

O resplendor solar sereno esparze

Na altitude um desprezo soberano.

 

      Christine M Crow escreveu: " sens d'ordre profond, vif et expressif et pas seulement un ordre logique. (Crow, xv) Dans son poème, Valéry décrit le rapport entre l'expérience humaine et la nature. Par exemple, il compare la vie et la mort à la lumière du soleil et au coucher du soleil. Le narrateur semble être un personnage fictif qui néglige la mer d'un cimetière à  côté d'une colline. Sa théorie c'est que "le Moi, c’est la Voix" et que la voix c'est la "clef de la poésie". Pour cette raison il croit qu'il existe autant d' interprétations du poème que de personnes qui le lisent. Nous avons tous une voix propre qui expose de nouvelles idées et des images à d'autres parce que notre voix est unique".


 

Como em prazer o fruto se desfaz,

Como em delícia muda sua ausência

Na boca onde perece sua forma,

Aqui aspiro meu futuro fumo,

Quando o céu canta à alma consumida

A mudança das margens em rumor.

 

    Diz Maistière Marin” c’est une réflexion sur la condition mortelle de l’homme.  L’homme dans le poème se promène entre les tombeaux et regarde la mer en même temps.  La mer ramène à la vie.  La mer bouge mais la mort c’est immobile; ça exagère l’état des deux.  La mer représente la vie, le cimetière et la mort, et les cieux c’est l’immobilité relative, le soleil est l’absolu, et la voix de la personne qui parle c’est “le Moi”.  Avec sa mention du “moi” et “je”, Valéry se sépare plus du “regard marin”.

 


Belo céu, vero céu, vê como eu mudo!

Depois de tanto orgulho e tanta estranha

Ociosidade - cheia de poder -

Eu me abandono a esse brilhante espaço,

Por sobre as tumbas minha sombra passa

E a seu frágil mover-se me habitua.

 

      L’indication du mouvement - continua - qui existe dans le poème révèle la continuation d’une forme de définition du “moi” en relation au changement graduel de la scène de la vie et la mort.  Le changement de la nature représente le changement de la scène externe, et la sensation de sa propre mortalité: “Comme le fruit se fond en jouissance . . .”.  Alors, l’homme c’est le qui change et qui prend comme arbitre les cieux que ne change pas: “Beau ciel, vrai ciel, regarde-moi qui change...’.  L’homme se rend compte de sa différence solitaire, comme principe de changement et comme une capacité et le manque de perfection divine.


A alma expondo-se às tochas do solstício,

Eu te afronto, magnífica justiça

Da luz, da luz armada sem piedade!

E te devolvo pura à tua origem:

Contempla-te!... Mas devolver a luz

Supõe de sombra outra metade morna.

 


E mais: " Le Cimetière marin de Paul Valéry (1871-1945) connut un succès immédiat lors de sa publication dans le numéro du 1er juin de La Nouvelle Revue française ; mais il faut en rechercher le germe cinq ans plus tôt, Valéry étant alors dans le vif de la composition de l’interminable poème que fut La jeune Parque. Bien que la strophe initiale ait jailli dès les premières esquisses, déjà fixée dans ses constituants, thème, rimes et mètre, avec un premier distique qui ne variera plus, Le Cimetière marin connut une genèse à rebondissements, avec des phases d’activité intense entrecoupées de longues interruptions. Avec ce sixième état, dont le titre est double (" Le Cimetière marin. Mare nostrum "), le poème ne compte encore que dix strophes sur les vingt-quatre qui constitueront le poème en 1920. De plus, la structure d’ensemble qui semblait fixée vola en éclats, et le travail fut relancé pour de longs mois. Le texte est attaqué de toutes parts, et les variantes qui pullulent brouillent le texte. Il fallut l’intervention décidée de Jacques Rivière (1886-1925), tout jeune directeur de la NRF, pour que le poème fameux parût enfin".