terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Miritiba de Humberto de Campos













Miritiba de Humberto de Campos


Rogel Samuel



Humberto de Campos nasceu em Miritiba, hoje Humberto de Campos, Estado do Maranhão em 1886 e morreu em 1934 no Rio de Janeiro. Foi um escritor de sucesso. Começou do nada, como tipógrafo, escriturário, redator de jornal. Chegou à Academia, na sucessão de Emilio de Meneses. Era um sucesso. Quem não leu Humberto de Campos naquela época? Diz Assis Brasil: "“Tido e elogiado como um prosador admirável, a fase poética de Humberto de Campos, no começo de sua carreira (1904-1915), quando publicou os dois volumes De Poeira, enquadra-se numa fase de transição, a que alguns chamam de neoparnasiana, mas sem uma característica definida. Certo, o homem de sensibilidade que também sabia fazer versos, como alguns de seus contemporâneos.”
(apud Antonio Miranda).

Jornalista e político. Foi autodidada. Getúlio o admirava. Escreveu mais de 30 livros. Leiamos "MIRITIBA":



É o que me lembra: uma soturna vila

olhando um rio sem vapor nem ponte;

Na água salobra, a canoada em fila...

Grandes redes ao sol, mangais defronte...



De um lado e de outro, fecha-se o horizonte...

Duas ruas somente... a água tranqüila...

Botos no prea-mar... A igreja... A fonte

E as grandes dunas claras onde o sol cintila.



Eu, com seis anos, não reflito, ou penso.

Põem-me no barco mais veleiro, e, a bordo,

Minha mãe, pela noite, agita um lenço...



Ao vir do sol, a água do mar se alteia.

Range o mastro... Depois... só me recordo

Deste doido lutar por terra alheia!




O soneto é extraordinário. Descreve a sua "soturna vila" natal, o rio, a água salobra, as canoas, as redes de pescar, os mangais. Tudo síntese do quadro. O horizonte, duas ruas, a igreja, as grandes dunas ao sol. A criança parte com a mãe, que agita um lenço, entra o barco no mar, na vida, no grande mar da vida, na terra alheia.

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