quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Bilac






Bilac


Rogel Samuel


Ele escreveu um soneto famoso, bendito o que fez na terra o fogo, o teto, a charrua, a enxada, o que plantou o pão do trigo, e forjou o ferro, o que fez o jazigo, a casa dos mortos, o que fabricou o alfabeto, e deu esmola, e fez o barco no mar, a vela ao pano, e inventou o canto, a lira, o dominou o raio, e alçou o aeroplano, e descobriu a esperança, essa mentira, essa ilusão:


"Benedicite"


Bendito o que na terra o fogo fez, e o teto
E o que uniu à charrua o boi paciente e amigo;
E o que encontrou a enxada; e o que do chão abjeto,
Fez aos beijos do sol, o oiro brotar, do trigo;

E o que o ferro forjou; e o piedoso arquiteto
Que ideou, depois do berço e do lar, o jazigo;
E o que os fios urdiu e o que achou o alfabeto;
E o que deu uma esmola ao primeiro mendigo;

E o que soltou ao mar a quilha, e ao vento o pano,
E o que inventou o canto e o que criou a lira,
E o que domou o raio e o que alçou o aeroplano...

Mas bendito entre os mais o que no dó profundo,
Descobriu a Esperança, a divina mentira,
Dando ao homem o dom de suportar o mundo!

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