sexta-feira, 18 de julho de 2008

Interpretar a Divina Comédia?



Rogel Samuel

Escreveu Otto Maria Carpeaux: “O próprio Dante distinguiu quatro níveis de interpretação e compreensão do poema: o sentido literal e histórico; o sentido alegórico e tipológico; o sentido topológico ou moral;e, enfim, o sentido analógico ou místico. Mas será este último jamais acessível a nós mortais?” (“Meu Dante”). Mas creio que o grande poema não necessita de interpretação, nem classificação. Basta-se a si próprio. Ou melhor, seu melhor sentido é “veja-me”, “eis-me”. Ou seja: “leia-me”. O poema máximo diz:”Veja como sou bem construído, perfeito”, pois Dante é muito bom de ler, afinal ele conta algo, uma estória, tem um “enredo”, é um livro de viagem, uma viagem fantástica, extraordinária, em versos de certo modo claros, bons de ler, onde se vai a algum lugar, a um certo fim, a uma finalidade, onde se espera chegar em paz, talvez à morte, ou ao eterno, pois vida é uma vereda perigosa, onde os rochedos desabam, desmoronam (...e poucos, só poucos podem dizer no fim: “e ao brilho caminhamos das estrelas”), e esta estranha estrada não diz aonde leva, aonde vai, nem que:

Se prosseguir agora vos apraz,
passai por esta grota, onde se abriu
uma vereda, e chegareis em paz.

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